quinta-feira, 24 de maio de 2012

Quando a Democracia é traída.

Toda vez que traímos o principio democrático das maiorias, delegando às minorias o governo, fazemos uma oligarquia tendente à tirania, visto que é uma minoria impodo o seu querer às maiorias. O texto abaixo trata disso e é assinado pelo Bispo de Porto Alegre.


O Escândalo do Judiciário


A problemática dos crucifixos leva-nos a parafrasear o que S. Paulo diz na sua Primeira carta aos Coríntios (1,23): Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para o Judiciário e loucura para a Liga das Lésbicas, mas para os cristãos, que constituem 92% da população brasileira, marcados pela Cruz de Cristo através do Batismo, é poder de Deus e sabedoria de Deus.
Muitas pessoas comentaram e manifestaram sua apreensão diante da atitude do Conselho da Magistratura frente aos Crucifixos, no intuito de descaracterizar a sociedade brasileira de sua cultura. Quer-se assegurar total estranheza ao Cristianismo, como se a questão fosse religiosa e não cultural.. Por isso é preciso enfatizar, para os que pretendem assim dar um golpe à Igreja Católica, que não se trata de um problema que relacione Igreja e Estado, cujas relações foram firmemente consolidadas, num respeito mútuo, pelo Pacto entre o Brasil e a Santa Sé, assinado em 2008, em Roma e homologado pelo Congresso Nacional, com força de tratado internacional. O problema dos crucifixos, ao invés, envolve o Judiciário e a Sociedade brasileira. Trata-se de uma questão democrática, de maioria.
A pergunta é se o Judiciário, com esta decisão, ainda representa a sociedade brasileira ou se está voltando as costas para ela, rejeitando seus símbolos mais caros, de Amor, Justiça e Verdade, para eventualmente privilegiar uma representação lésbica da mitologia grega, pela deusa Themis, de olhos vendados. Por ironia dos fatos, corre a acusação de uma discriminação contra o sexo oposto, rejeitando o homem Jesus, mártir da injustiça, para acolher uma mulher mitológica.
O fato de uma liga de lésbicas ter conseguido êxito na sua devassa aos valores cristãos do Ocidente aparece como sinal de grupos extremamente minoritários e radicais assumirem supremacia, com o apoio do Judiciário, sobre as Tradições que marcam nossa civilização solapando a base da sociedade brasileira. Se este grupo - que não representa todas as lésbicas, visto que outras professam a fé cristã - e o Judiciário se envergonha da sociedade brasileira, tentando solapar seus fundamentos de convivência, não há que estranhar que também a sociedade, marcada por uma tradição de quinhentos anos de fé, se envergonhe deles.
Reafirmamos nossos valores sociais e nossos símbolos mais sagrados para atestar a busca da paz social, da fraternidade universal, do amor incondicional, da salvação que vem de Deus, da honestidade que garante a contextura social, da fé no transcendente a garantir perenidade à vida humana. A Cruz para nós, bem como para grande parte da humanidade, mesmo fora do Cristianismo, sintetiza a dimensão transcendente do amor a Deus com a dimensão imanente do amor ao próximo.
Convém frisar que não foi a Igreja católica que colocou os crucifixos nos tribunais de Justiça. Tirando-os dali os juízes da Magistratura ofendem sua própria tradição e todos os juízes que os precederam, que os tinham como símbolo de fé e imparcialidade. Esperam os que o Crucifixo continue a constituir a força de Deus e a sabedoria de Deus também para os servidores do Judiciário. Quem tem fé sabe e experimenta. Não se deve, porém, esquecer que o modo de viver de uma sociedade não é determinado por uma minoria, nem pode ser por ela obstacularizado, se não se quiser configurar uma ditadura e suprimir a democracia.
Dom Dadeus,
Arcebispo Porto Alegre
- RS




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