Tinham alma os índios?
É muito interessante a freqüência com que encontro em livros de história, ou periódicos a afirmação de que a Igreja Católica em plena idade Média, e inicio da Moderna, ainda não se decidira se as mulheres os negros e os índios tinham ou não alma. Mentira maliciosa e mal intencionada divulgada à exaustão pelos inimigos do verdadeiro cristianismo.
Embora a idade média termine com a tomada de Constantinopla pelos Turcos em 1453, com o avanço dos otomanos na seara cristã, e os portugueses desde muito já conhecessem os negros, e a figura dos Três REIS MAGOS, com a imagem do rei negro fosse cultuada em Portugal desde os anos 1200, não se poderá, em hipótese nenhuma, acusar a Igreja de tal duvida grosseira. Da mesma forma os judeus conheciam os negros, desde o tempo do exílio no Egito, e todos devem saber, existem os judeus negros, os Phalashas. (Origem da palavra falácia)
Não é difícil comprovar que o catolicismo, enquanto Igreja de Pedro, fenômeno palestino e romano, gira em torno da figura da mãe de Jesus Cristo, portanto gira em torno da mulher; Santa e imaculada. Ora, sendo assim, desde o inicio da Igreja, como comprovam as primeiras imagens de Maria nas catacumbas romanas, cultuou a alma feminina, a alma de Maria, portanto a Igreja nunca duvidou da existência da alma da mulher. Esta desmentida a primeira acusação.
Do mesmo modo, como diz o Novo Testamento, Cristo mandando os apóstolos ir pregar a todos os povos da terra, algum povo tenha ficado fora da evangelização da Igreja, muito menos a Igreja evangeliza seres sem alma. Ora, como vemos é falsa também a segunda acusação.
Como todos sabem a Sagrada Escritura ressalta a origem comum de todos os homens e mulheres. Primeiro em Gênese, quando Deus cria Adão e Eva. Depois novamente durante o Dilúvio, onde toda a humanidade pós-diluviana onde toda a humanidade descende de Noé sua mulher e filhos, e naturalmente suas esposas.
Portanto a origem comum da humanidade pós-diluviana, Noé e seus descendentes, e suas esposa é que dariam origem aos demais povos da terra. Para as Sagradas Escrituras não haveria a mínima possibilidade de existirem seres humanos sem alma. A Igreja nunca ensinou outra coisa.
E o ameríndio?
Como vimos acima o índio desde sempre, para a Igreja, tem teve e terá alma. Como Provar?
O primeiro documento Oficial da Igreja sobre os ameríndios é a Bula Ipsa Veritas de 1537, assinada pelo Papa Paulo III (Alexandre Farmes) lembrando aos colonos de toda a América a vocação dos povos indígenas ao batismo é a fé cristão, e já condenando os abusos.
Como titulo de curiosidade, e boa prova do que digo, registro aqui alguns dados para estimular os pesquisadores interessados nas coisas da Igreja. Assim, nas primeiras obras manuscritas e ou, publicadas na America, pela Igreja e que foram escritas para a edificação do ameríndio, para a catequese de todos e para a cristianização das massas, ainda que nos pareça um pouco maçante, insisto, todavia, para que fique registrado esse trabalhoso inventario para o registro dos historiadores e curiosos ou estudantes de plantão como uma prova definitiva e cabal de que na America nunca se duvidou, ao menos por parte da Igreja, da existência da alma ameríndia, ficando assim desmentida também a terceira acusação.
Na gravura que vemos acima como ilustração desse texto, e na Carta de Caminha (1500) que elogiava abertamente os índios, ou nos relatos de D. Álvaro Cabeza de Vaca descrevendo a sua estada na America do Norte (1527) e mais tarde no Brasil (1541) não encontramos nenhuma duvida sobre a existência ou não da alma ameríndia.
Hernão (Fernão) de Cortez aportou no Yucatã, no México em 1519. Ele se relacionará com uma ameríndia, escrava de outros ameríndios (astecas) batizada como Marina, (provavelmente a primeira ameríndia batizada na América pelos espanhóis) que será como nos conta a história, sua companheira, esposa e pivô da conquista mexicana. E ninguém batiza quem não tem alma.
Com a conquista do México em 1523/25, foi ali instalada pelos padres a primeira tipografia da América, na cidade de Tenochtitlan, hoje cidade do México. Foi instalada como nos contam os relatos da Igreja em 1539 obra e iniciativa do primeiro arcebispo do México D. João de Zumárraga. Pode-se provar através desses documentos que os catecismos na América tinham os ameríndios como principal objetivo. Foram compostos por missionários franciscanos, agostinianos, e jesuítas (esses a partir de 1540).
No Brasil o primeiro catecismo impresso e destinado aos índios era uma versão do catecismo de Marcos Jorge. O padre Grã, superior geral dos jesuítas, fez vir de Portugal exemplar em 1564. Também o padre Ignácio Martins SJ, fez uma compilação da doutrina cristã que ficou conhecida em todo o Brasil como Cartilha do Mestre Ignácio. Em 1574, o padre Leonardo do Vale traduziu a Cartilha para o Tupi, que foi posteriormente aperfeiçoada por José de Anchieta que, por sua vez, também e organizou outra gramática, a gramática tupi-guarani.
Como estamos vendo, a Igreja, para ensinar, procurava aprender as línguas para poder comunicar-se.
O padre Antonio Lemos Barbosa, publicou em edição fac-símile do catecismo em língua brasílica (língua geral) quase todo redigido em base tupi, dito antigo, língua geral falada no Brasil, sob forma de diálogos catequéticos.
No inicio, na America espanhola, ainda restrita as Antilhas. Já se conhecia algumas obras como a de Pedro de Córdoba em castelhano destinada ao uso dos missionários para instrução dos índios em forma de histórias; sua primeira publicação veio em 1544. Em 1553 Zumárraga mandou publicar os manuscritos dos padres Turíbio de Montolina e João Ramirez OP.
Em 1537 registra-se a ordem do Imperador Carlo V de imprimir a tradução em língua indígena de João de Ramirez OP (isso é fantástico sobre o ponto de vista histórico). Os primeiros franciscanos chegados ao México em 1523 eram três freis belgas. Um deles João Conveur que morreu muito moço deixou um manuscrito em língua mexicana (asteca ou yucatã); Frei Pedro van der Moere também publicou um catecismo em língua mexicana. Desta obra as edições de 1547 e 1553 passaram a ser editadas no próprio México. Como já dissemos também existe em língua ameríndia a obra do frei Turíbio de Montolina, conhecido um exemplar da versão editada em 1539.
Em 1584 foi instalada a primeira gráfica do Peru por iniciativa do Jesuíta Turíbio de Mongrovejo, arcebispo do Vice Reino do Peru
Em 1603 no Sínodo de Assunção, o catecismo de Lima citado acima foi traduzido para língua guarani pelo frei Luiz de Boãnos OFM. O texto em guarani foi ao prelo em 1640.
Encontramos registros em língua guatemalteca publicada pelos franciscanos em 1540, obra do frei Francisco Marroquin, primeiro bispo da Guatemala. Existe um catecismo em língua Yucatã de Digo de Landa OFM; alem desse o de Domingos de Vaez SJ em língua origina da Florida conforme narra Cabeza de Vaca. Há outros registros em língua gorgotoqui; chirrguan, chané, capacorro e payamo. O jesuíta Pedro Anasco missionário em 1572 é a quem se atribui a gramática das línguas faladas no Tucumã ( México).
Termino esse texto citando o jesuíta Diogo de Samamiego que escreveu o conhecido “Catecismo, Arte e Vocabulário” da língua Chirriguana. Caba ainda que o muito que se sabem hoje sobre as culturas incas mais e astecas se deve aos registros, mapas, compilação de desenhos pelo Bispo Digo de Landa, já citado.
Ninguém distenderia tanto esforço e tempo, ate a própria vida se não acreditasse na Alma dos ameríndios. Acho que o texto ficou bem, objetivo e fala por si mesmo. Todos os documentos e nomes citados podem ser pesquisados e encontrados. Acho que o texto responde a duvida construída e divulgada ou maliciosamente plantada nos textos religiosos e históricos de autores críticos da Igreja, e surpreendentemente repetidos pelos autores católicos.
Wallace Requião de Mello e Silva.
Para o Grupo 23 de Outubro.
Ten. Lauro disse: muito interessante sobre este tema é ler o blog: www.laurohenchen.blogspot.com Como eu sempre digo: procuro "matar a cobra e mostrau o pau".
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