sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Qual a medida, a régua que eu uso?

A Mentira como orgulho e a verdade como humildade.
O Cristianismo como regra e medida do fato moral.

Ao tratar da mentira estamos pisando em campo minado. Se não tivermos uma visão cristã (acreditando que Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem) cairemos no mesmo erro de Pilatos dizendo como ele: mas o que é a verdade? É o relativismo moral. Ora, se não há uma verdade, não há mentira, e ninguém mentiria. Ninguém diria tampouco a verdade. E não havendo nem mentira nem verdade, nem certo nem errado, não se lesa a justiça. Não se cometeria injustiça alguma. Não há quem possa alegar razão.
Houve um tempo, em um mundo sem Deus, em que a força bruta era a verdade. Havendo uma disputa qualquer, ideológica, comercial, territorial, religiosa, dava-se uma espada para cada um e aquele que sobrevivesse estava com a razão e era o veraz. O outro, (indivíduo ou grupo) o derrotado, não defendeu suficientemente as suas razões e, portanto sucumbiu com elas. O homem morto não tinha e não necessitava de razão e a razão por sua vez não necessitava dos mortos.
Todavia hoje vemos que ações e lutas também se expressam por meio de palavras. A ação (luta, trabalho) se expressa pelo verbo, e o verbo é a palavra que expressa à ação. O VERBO é a expressão da vontade e da inteligência.
Que diz sobre o Verbo o Judeu - Cristianismo
No inicio era o Verbo (vontade e inteligência de Deus) E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós. Mas a ação e vontade de Deus impôs-se pelo Espirito, ate que se encarnando, fez-se carne, e como carne tornou-se palavra objetiva. Palavra objetiva de homem para homem. Na verdade de Deus para homem. Nascia o Deus homem, verdade, caminho e vida, medida, para ser seguida. Assim sendo, em tempos anteriores a Cristo, essa batalha sutil entre contendores passou a ser feita gradativamente e historicamente pelas vias das palavras. Antes de Cristo, e mesmo em alguns grupos humanos depois dele, quem tivesse nelas, nas palavras, os melhores argumentos, teria a razão. Era o desabrochar do Racionalismo. Mas o argumento também se colocou a serviço do poder da força, e da força bruta, tornou-se ele próprio um poder e fez-se mercenário o argumento, mercenária a razão. A razão mercenária, por sua vez, criou assim, as regras de contenda, onde o comercio, disse Marx, apresentou-se como a civilidade da guerra, e a figura do juiz, do rei, do governador, nasceu com ela, numa sociedade onde os homens lutam segundo as regras dos fortes, profetas, juizes e reis, que se estabeleceram, segundo as leis dos fortes, e os homens fortes chamaram a isso de “Ciência do Direito”. As regras de convivência, ou o conjunto de regras de convivência humana. Mas da mesma forma que Pilatos, representante do quase universal Império Romano, não conseguia ver verdade nos diversos costumes e regras de convivência humana de diferentes povos, submetia-os pela força, hoje, num mundo global, impera o direito dos costumes, ou seja, Consuetudinário, que repete: O que é a Verdade? O que é a Justiça? E os homens fracos, os submetidos de todos os tempos, chamam a isso de “Direito da Ciência” ou “direito dos que tem a razão”. É o cientificismo, o mundo dos tecnocratas. Eles, os fortes têm a força, as leis, a ciência, a técnica e a razão. Ou melhor, eles têm a razão da força e a força em si, armada muitas vezes, que lhes dá as garantias à razão da força, e lhes garante os direitos de imperar.
Vide, leitor, os fortes podem armar-se oficialmente, os fracos não. Os fortes sabem usar as armas, os fracos não. Se os fracos tomarem das armas, tornar-se-ão fortes, e isso é revolução. Terrorismo talvez! Um fraco, para armar-se, precisa tornar-se forte, ou seja, defender o que os fortes defendem dar provas de fidelidade aos fortes, para armar-se fielmente das razões dos fortes, e com os fortes, ao lado deles, fazer valer suas razões de forte, ainda que pela força das armas, e pela pratica da injustiça. Veja a intervenção no Iraque.
Dizem eles: “Nós os fortes, com razão, temos o direito de nos armarmos para garantir a liberdade de sermos fortes. E enquanto formos fortes o mundo será livre para os fortes. E como a nossa razão de fortes nos ensina que nem todos podem ser fortes, nem todos podem ter poder, porque a força precisa submeter alguém, nem todos podem ter armas, nem pelas armas podem fazer valer suas razões. Os fortes dominarão. Os fracos serão dominados. E dominar significa ter alguém sob domínio, os fortes dominam os fracos”. Os fracos como vêem não podem ter suas razões, e sim sofrer as razões e justiça dos fortes. Qualquer ousadia de fracos em tornar-se forte pela via adversa à razão dos fortes comete crime de sedição, é um revolucionário, um terrorista. Um fora da lei.
Assim é a razão sem Deus. Assim é a razão do mundo em que vivemos. Desvincula-se o direito à verdade de sua fonte primeva, e de natural, positivo e divino torna-se consuetudinário, um direito fundado nos costumes dos fortes, ou dos fracos, conforme a conveniência dos fortes, um direito de conveniências.
Mas o que é a verdade? Já dizia o Pilatos, o juiz protótipo do direito consuetudinário,... Se eles nos seus costumes judeus querem assim, assim seja, ainda que eu não ache nesse homem crime algum, disse solenemente lavando suas mãos entregando o inocente. Entregando a Verdade ao desejo dos fortes judeus, submetidos pelos mais fortes Romanos. Nos dias de hoje caminhamos para algo semelhante. O império da força econômica. O domínio dos meios de troca, o império das razões econômicas dos fortes sobre os fracos. Uma grande e tola ilusão que condena nações inocentes, por serem fracas, no consumo e na produção de riquezas, a serem nações periféricas. Serviçais. Nações fracas não devem se armar ou ousar mostrar força. Que vençam as fortes, como nas antigas querelas individuais de um passado longínquo, porque as fracas e suas razões não foram suficientemente defendidas. Voltamos ao inicio da questão, os fortes vivem e os fracos lhes sustentam na escravidão, a vida.
Pequenas nações, diria eu se não fosse cristão, e homens fracos, se quereis ter suas razões lutem. E lutem mesmo sem ter razões. Pois só tereis razões, é verdade, quando fordes fortes. Assim se apresentam os fatos históricos, num discurso de fortes. Se os fracos se rebelam, os fortes com razão os submetem, e exploram, e mantêm-se o discurso e a justificativa, do poder e da força.
Mas se pudéssemos nos distanciar do planeta em tal distância que o vôo de um jato partindo da Argentina para o Japão nos parecesse algo como o pulo de uma pulga sobre uma laranja ou ainda coisa menor, perceberíamos num estalo que os homens não são senhores plenos de seus destinos comuns.
O planeta, como uma laranja, e os jatos de guerra vistos como pulgas, já nos pareceriam algo de muito frágil, frágil e pequeno, como toda a obra humana é pequena. E dependentes profundamente dependentes os homens e suas obras, de uma harmonia celestial. A menor confusão ou desordem celestial, uma desordem das esferas em suas orbitas e traçados, e esses ínfimos seres humanos, ou se congelariam ou queimariam, acabando de uma só vez com todas as suas contendas mentirosas. Os homens são capazes de submeter a Deus? Esvaziaria de uma só vez o discurso para a manutenção de um poder que não é poder. Porque o poder dos homens não é verdadeiro.
Disse Cristo a Poncio Pilatos: “Se tens poder sobre mim, é porque meu Pai te deu”. Ora, o poder de Pilatos era dado por Deus, para que se cumprisse a vontade de Deus, e pela vontade dele abrissem os olhos dos homens cegos de orgulho. Lutando assim o homem por um poder que não se tem um poder e uma liberdade que não se tem, e essa é a maior das suas mentiras, na ilusão completa o homem se faz juiz do homem, no poder e no livre arbítrio que Deus lhes confere. O homem submetendo ao homem. O homem dominando o homem. Todavia...
Vistos de dez mil quilômetros de altura os homens, os mais ricos, os mais fortes, os mais armados não passam de poeirinha cósmica. Seres microscópicos incrustados em poros da casca de uma pequena laranja mergulhada, como se fora em um oceano de laranjas em movimento. Vistos assim de tal distancia, a inteligência e o poder dos homens já não me parece grande coisa. São, somos tão tolos que não conseguimos nos maravilhar com a nossa pequenez cósmica. Mas são tão fantásticos, por outro lado, em sua dimensão espiritual que conseguem se “enxergar” como se estivessem afastados da terra a dez mil quilômetros de distância, num piscar de olhos. É o espirito do homem, semelhança e imagem de Deus.
Quem sois então, pequeninos homens? Foi a matéria burra e cega que os gerou acidentalmente num processo evolutivo da vida relativa e do direito relativo? ... Ou fostes gerados pela inteligência geradora de todas as coisas que vos fizestes no meio de tanta matéria burra outra espécie, pequena inteligência viva, como se fora sua própria imagem e semelhança? Pequenino homem tu és presunçoso ou apenas capaz de perceber que tens a consciência da existência da “inteligência criadora de Deus” que se reconhece por fora, livre e acima de todas as coisas criadas, incluindo a ti mesmo, pequenino. Deus não esta no seu coração porque não pode contê-lo, nem foste tu a criá-lo e imaginá-lo, mas Ele se manifesta em ti. Ele revelou-se a ti, porque não poderias encontrá-lo. O Espirito Dele te acendeu, pequenina inteligência.
Pensou o universo, pequena criatura? Ou pelo contrario, pensastes ao menos, como seres inseridos no universo? Criastes a ti mesmo, presunçoso? Destes conselhos ao Deus e lhe ensinastes os caminhos e os valores? Tuas grandes conquistas e ciência podem te retirar de tua pequenez cósmica? Tua alma transcendente pode sobreviver livre de Deus que te mantém na existência? Se crescesses e se evoluísses ate o infinito deixarias de ser criatura para ser tal qual o criador?
Sou como Deus, disse alguém, lembra-te? Não, tu jamais deixarias de ser criatura ainda que fosseis um anjo de luz. Então o poder verdadeiro não te pertence, nem te pertence a vida, nem a vida dos homens esta em tuas mãos, pequeno ser rebelde e mentiroso. Inventaste um caminho de mentiras. Um caminho para dominar. Evoluir para saber, saber para ter razão, ter razão para ter poder... para mandar nos homens... e para que, para que, eu te pergunto? Para gerar a morte. Porque a Vida, a Verdade e o Caminho não te pertencem. Tu não diriges a ninguém. Só um é poderoso, só um é sábio, só um é eterno. Só um não teve começo e não terá fim. Abandonar-se nele é ser sábio. Não porque se ganha em sabedoria para sobressair aos outros homens e ter sobre eles algum poder, mas porque pela sabedoria se participa da Sabedoria e Vontade Divina, e na vontade Dele esta a tua vontade, e na liberdade Dele esta a tua liberdade, e na inteligência Dele esta a tua inteligência, e no poder Dele esta o teu poder, e na justiça Dele esta a justiça. Quando nos arrependemos de não ter feito a vontade de Deus em nossas vidas individuais e em nossas sociedades, fazemos aí, justiça sim, pois queremos fazer a vontade Dele, e quando fazemos justiça, fazemos a vontade Dele, e quando fazemos a vontade Dele, sentimos a misericórdia, pois a misericórdia é amor, e estar contigo meu Deus é estar no amor e estar no amor é estar contigo e estar contigo é fazer a tua vontade. Eu sou para vos servir. A verdade é a humildade. A Vida é Deus. O caminho é Cristo.

Wallace Requião de Mello e Silva
Psicólogo.

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