A soja transgênica (II).
Wallace Requião de Mello e Silva.
Quem observa atentamente o andamento da 7 Conferencia Internacional de Pesquisa da Soja, que vem se realizando em Foz do Iguaçu, ouvira surpreendentes afirmações que devem não só entusiasmar os brasileiros, mas também enchê-los de prudência. No meu primeiro artigo eu já havia observado que os pesquisadores paranaenses Luiz Carlos Balcewicz, e Ralfy Karly haviam observado vantagens entre os produtores de soja natural no Paraná sobre os produtores de soja transgênica nos EUA. Essa opinião é agora confirmada em Foz do Iguaçu. O pesquisador norte americano Harold Kaufmann, da Universidade de Illinois, diz, segundo um boletim da Ocepar, que a comunidade cientifica norte americana tira o chapéu para a evolução da cultura da soja nas ultimas décadas “Não podemos competir no mesmo nível do Brasil”, diz o pesquisador. Para competir com o Brasil vamos buscar nos EUA qualidade pois quantidade ficará com o Brasil, ele afirma. Não, dizemos nós, com o Brasil ficará a quantidade aliada a qualidade, pois o mundo vem procurando justamente o que o Brasil esta oferecendo como podemos ler e confirmar nas próximas palavras do pesquisador. “Vamos ( diz ele) buscar novas opções, produtos orgânicos ( como soja tradicional) e venda de commodities através de um mercado de futuros. Ora, numa primeira olhada parece que ele quer dizer que os EUA vão investir em tecnologia , para melhorar os seus produtos, ou em orgânicos para conquistar a Ásia e a Europa ou para competir com o Brasil ofertar um novo meio de exploração comercial através de commodities, pois segundo o mesmo pesquisador, o Brasil haverá de suprir o mundo na sua necessidade de soja. No entanto é preciso ler o que esta dito nas entrelinhas. Primeiro o EUA perde mercado. Segundo, se o Brasil será campeão no mercado mundial do soja , conquistando parcelas de mercado dos EUA e Argentina podemos observar duas vertentes: primeiro o Brasil é um grande mercado para sementes, o Brasil vende o soja para o mundo e eles nos vendem as sementes ( como no caso de matrizes de frangos), nos emprestamos o solo, o clima, a mão de obra barata. E se o Brasil insistir em orgânicos, sem depender de compra de sementes patenteadas, pois foi esse o diferencial que determinou o crescimento da soja e da exportação no Brasil, segundo a Universidade do Rio de Janeiro, eles irão, então tentar controlar esse fluxos de capital oriundo das exportações ( que é a comprovação de que eles perdem mercado internacional) por meio do mercado de futuros, através da venda de “commodities”. Segundo esses tecnocratas do capital,( não da agricultura) e que vêem o produto da agricultura apenas como fonte de recursos, assim, sob o controle deles, o Brasil controlará melhor os preços internos. Na verdade vemos a investida de grupos gerenciadores “financeiros” que controlarão os preços do produto brasileiro. Impedindo que o Brasil derrube, pela grande oferta, preços praticados internacionalmente conquistando definitivamente o mercado internacional.
Uma terceira preocupação para nós brasileiros é o grande crescimento de monocultura.
Finalmente, segundo um pesquisador da Embrapa, Amélio Dall Agnoll, o Brasil poderá ser acrescido de mais 50 milhões de hectares de área plantada com soja (espero, que soja tradicional) produzindo mais de 200 milhões de toneladas, abastecendo sozinho o mundo inteiro. No ano passado a China (1,3 Bilhão de pessoas) comprou trinta milhões de toneladas, sendo que sete milhões do Brasil. Nessa mesma linha digo mais.
Recentemente o governador do Paraná e o governador do Mato Grosso, os dois estados maiores produtores de soja do país estiveram em visita com o presidente Lula à Índia, e a Europa, constatando que a aceitação da soja tradicional não é só maior em relação ao resto do mundo, é preferencia premiada, com acréscimo no preço pago pela saca. Também não é verdadeira a tese que os importadores preferem os produtos “in natura”, é claro que eles precisam manter os seus empregos, e se esforçam nesse sentido, mas o Brasil pode e deve incrementar o valor agregado em sua produção agrícola beneficiando em solo nacional os produtos oriundos da agricultura. Mais do que a produção de grãos para a exportação, nós precisamos de uma política de empregos. Nosso território não é apenas um território de plantio para que países ricos possam comer, e para que instituições financeiras possam lucrar com o resultado dessas méga produção. Nossa produção, em qualquer setor, deve gerar empregos, renda para brasileiros, capitalização do povo e saúde para a população.
Não podemos deixar que façam conosco o que fizeram com a África, sugando de tudo, sem acrescentar absolutamente nada a aqueles povos
Quando eu leio nas entrelinhas os interesses em jogo, e explicitamente leio o questionamento feito por Luiz Antônio Barreto de Castro, chefe geral do departamento de genética da Embrapa que diz: “Que futuro terá a Embrapa sem financiamento para suas pesquisas e contando com apenas um modesto apoio do Ministério da Agricultura?” nos inclinamos a acreditar que esse instituto esta, antes de tudo, à venda, ou seja, não pesquisa em beneficio da liberdade da nação, nem vai buscar em nossos produtores de soja os recursos para a realização de suas pesquisas, vende serviços de opinião técnica, não em favor da nação brasileira, mas aos financiadores internacionais que precisam de opinião favorável para obter o controle de sementes, num país, que eles mesmos apontam como promissor e capaz de tomar conta do mercado de soja do mundo. Eles podem perder o mercado de grãos, farelo e óleo, e querem preservar o mercado de sementes, já dizia Bahunmeyer dez anos atrás. Ora será que é tão difícil perceber o porquê de essa 7o Conferência Internacional de Pesquisa da Soja estar sendo realizado justamente aqui em Foz do Iguaçu? Nada contra, apenas, espero dos paranaenses e brasileiros mais esperteza para enxergar as suas possibilidades. Sempre lembrando que não é possível plantar transgênicos e não transgênicos ao mesmo tempo – as culturas de transgênicos contaminam os sistemas de plantio e armazenamento e aumentarão, enfim os custos de produção do setor.
Wallace Requião de Mello e Silva.
Cinco de Março de 2004.
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