segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Artesanato indigena no Paraná.




O artesanato indígena.
Não se sabe com precisão quando e como começou a produção humana, todavia foi o fazer o que melhor marcou a presença humana a ponto dos especialistas chamar o homem de Homo Faber à fronteira entre o homizio e o homo sapiens, ou seja, a sabedoria do fazer. A oposição do polegar, e a manipulação dos objetos parece ser uma marca considerável a separar os homens dos animais. Os animais, cavam, mordem, e copulam, e nisso fica a sua transformação do meio. O homem modifica as coisas em utensílios de paz ou de guerra, de proteção ou ataque, de sobrevivência ou morte, mas o homem age intencionalmente sobre o meio que o cerca e o modifica. O fazer desenvolve-se para o fazer com elevado grau de aperfeiçoamento, revelando a arte do fazer, e se desenvolve para um alto grau de senso estético, revelando a arte do belo, do harmônico, do puramente artístico. No caso das populações primitivas, o leque de estudos da arte é de tal forma ampla que acabou por gerar ciências especificas para estudá-la. No nosso caso especifico os indígenas no Paraná, aleatoriamente, fundados nos textos de antropólogos, paleontólogos, e historiadores, tentamos fixar nosso universo, em torno dos quatro mil anos. Não podemos exigir, uma vez que não é uma especialidade do magistério das artes plásticas senão um superficial esboço do quadro cultural dos nossos ameríndios, e desse esboço, tentar traçar as linhas principais do comportamento artístico. Pedras lascadas e o trabalho com ossos e madeiras para confecção de armas, alguma indústria para construção de casas, para a vestimenta, e utensílios para o preparo da comida e da dança e música, algumas pinturas rupestres, e o surgimento de alguma cerâmica, o que pressupõem um mínimo de conhecimento do desenho é a síntese. Essa arte do fazer, e a Arte complementar do fazer com beleza, vão construindo suas técnicas e tradições, que se expressão a cada passo do desenvolvimento dessas populações, gerando musica, dança, pinturas corporais, “casas”, utensílios para carregas, cozinhar, enfeitar. Tanto os Guaranis como os Kaigangs produziam e produzem artesanato de taquara, balaios chocalhos, plumagens, arcos e flechas, e pequenos animais de cera ou madeira que reproduzem animais típicos da fauna da região paranaense. Na noite dos tempos pré-históricos ninguém poderá saber e precisar quando começou essa tradição artística de esculpir e desenhar animais fantásticos, ou miniaturas realísticas.
Os indígenas parecem serem a verdadeira fonte de alguns hábitos dos paranaenses, como o gosto pelo pinhão e pela erva mate, na forma de chá ou como chimarrão, e o uso de ervas medicinais, culinária de raízes, e o gosto pela pintura e enfeites corporais. As redes de dormir hábito antiqüíssimo de nossos índios, as gamelas em barro, o vocabulário indigna que se imiscuiu no falar do europeu. Da língua tupi-gurani se originam os nomes de rios cidades, acidentes geográficos, nomes de frutos e ate de animais. Ao tempo da chegada dos europeus tudo indica registravam no estado três grupos lingüísticos, o Jê, os Kaigangs, ou xoklengs. Os Kaigangs são a terceira maior etnia lingüística do Brasil, Esses dois grupos caçavam em extensas áreas no Paraná, região onde cultivavam (não se sabe desde quando) milho, aboboras feijão e mandioca. Atualmente os índios na região do Rio Tibagi ainda fazem uso de armadilhas para caçar pequenos animais ou pescar. As de pesca são denominadas Pari. A organização Kaigang esta dividida por rígidas tradições míticas de onde se originam as funções sociais, as pinturas corporais e os papeis rituais de cada individuo dentro do grupo, a mitologia, ou seja, a religião define os casamentos e o nome do indivíduo. Estamos descrevendo essas relações porque eles determinavam a pintura corporal dos indivíduos que era e é uma das principais manifestações da arte estética e simbólica das comunidades indígenas, No culto aos mortos, desenvolveu os diversos tipos de pinturas rituais que são ao mesmo tempo indicativas de status dentro do clã, assim como a dança e, portanto a musica. Como em todos os outros povos a devoção religiosa foi determinante da qualidade da manifestação artística e dos diversos tipos de jogos sociais, que são aceitos e cooperados justamente por se aceitar uma cosmovisão. Cada povo tem seu padrão de desenho, como se fora uma língua, ou um tipo de vestimenta, que garante a identidade, a identificação e o sentimento de pertença. A arte indígena é muito colorida, com plumagens, adornos corporais e instrumentais, que determinam o cuidado com que cada um faz, manifestam ou dá acabamento nas variações do tema padrão do desenho de identidade de cada grupo. Algo como se todos falassem português mais alguns dizem na língua materna mais coisas ou mais precisos e elaborados temas do que outros. Ou seja, mais arte, melhor harmonia e mais apurado senso estético eleva o individuo no grupo, sem fugir dos padrões de identidade cultural e grupal. Os cestos, que servem, num povo nômade, para carregar, desde os filhos até água (cestos impermeabilizados com resina, tem nomes próprios e funções utilitárias e religiosas como as demais coisas e objetos dos índios. O cesto chama-se Krê em língua Kaigang os longos ou compridos são os cargueiros ou Krê Ty, os redondos e baixos Krê Jor, os fundos e quadrados os Kré Kapó. E os com alça Kre Ur. Os cestos como já vimos podem ser impermeabilizados com cera de abelha e ou resinas.
As cerâmicas também mostram toda uma seqüência de desenvolvimentos e técnicas que de tão características podem servir de ferramentas de datação dos diversos estágios de cada etapa de desenvolvimento de suas culturas. Nós as veremos quando em seguida formos descrever a cerâmica cabloca do litoral que é derivada das mais tradicionais técnicas indígenas. Como vemos toda a arte indígena esta ligada ao mais elementar e necessário ao homem: comer, e para isso colher, caçar, criar e plantar; aquecer-se, ou seja, vestir-se ou proteger-se das intempéries e perigos, conviver, tornar-se belo, destacado, seguro, proteger os seus, manifestar a alegria pela dança e musica, e prestar culto as suas crenças, integradoras e ordenadoras da sociedade. Precisa mais? Tudo o que fazemos hoje não se resume nisso?

A cerâmica cabloca do litoral.
Existe uma localidade no litoral chamada Medeiros. Pelo isolamento, possivelmente por isso alguns artesãos da localidade preservaram antigas tradições da cerâmica escovados tupi-guarani; ao menos no que diga respeito à técnica, pois quanto à forma e utilidade já não se pode dizer que chaleiras, torradeiras, frigideiras, vasos de flores e chumbeiros para linha de pesca sejam propriamente objetos indígenas, todavia ao que parece pelo resultado de manipulação do barro, pode-se dizer que há semelhança à técnica indígena, Senhorinha Romão da Costa parece ser a depositaria das técnicas ceramistas indígenas. O barro o massapé; barro cinza-claro, liguento sedosos sem gravetos ciscos ou pedras, cava há dois metros. Argila plástica gorda. Na origem a decomposição de betonitas abundantes na região o barro é colhido na lua minguante e queimado na lua crescente. O machelo, barro preto, não é usado. A argila gorda deforma as peças e reduz o tamanho antes e depois ou durante a queima. O barro gordo é misturado em 30 % de farofa de Tacuí: o tacui é um saibro esbranquiçado, calcário que é pilo nado, peneirado e socado no barro para quebra a liga. Socas a argila assim preparada é tarefa penosa. È batido com um guardado de madeira, para ser bem sovado. A farofa de tucui é melhor mistura que a cinza que deixa escamas na Louça. Na bola de barro, com os punhos se faz a concavidade, e com uma cabaça se dá a forma alisada. Um rolete de argila aplicada à borda da peça dá profundidade. Sabugos de milho umedecidos escovam o barro dando homogeneidade e acabamento á peça. Com uma faca se corta a boca da paca e com uma folha de goiabeira molhada se da o alisamento das bordas. O ferramental é simples. Há as pontas de madeira para furara os cuscuzeiros, e os roletes para dar acabamento alisar e polir. A louça verde é a peça fresca recém modelada que é posta para secar. Após dois dias inicia-se o processo de acabamento. Com uma faca, depois de curtida a peça é raspada; uma pedrinha de rio molhada é esfregada em toda a peça, e deve ser molhada de vez em quando. O polimento impermeabiliza o barro garantindo a sua função tanto no fogo como na água. Depois as peças são erguidas num jirau perto do teto para secar por seis dias, aí estarão prontas para a queima. O forno um semi circulo de pedras de uns trinta centímetros de altura. A madeira são feixes de galhos já sapecados. A madeira deve fornecer pouco calor e chamas, como Canelinha, araçá, caiúna carova e jacatiró Dentro do forno uma camada de galhos dispostos lado a lado e depois outra camada transversal dispostos lado a lado. Os galhos são bem parelhos de grossura semelhante. Com uma vara comprida as loucas são colocadas uma a uma sobre a esteira de paus. São colocadas de lado, encostadas umas as outras de modo a economizar espaço e queimar o maior numero possível. Tições de fogo (brasas ardentes são trazidas e colocadas e espalhadas pelo forno. Outra camada de galhos é estendida de modo a cobrir as peças. Em menos de dez minutos o fogo é alto e algumas peças estalam e partem e são retiradas. Em menos de uma hora o fogo acabou, e com a vara as peças são retiradas e postas no chão para esfriarem, as brasas que sobrarem votam no fogão. Alguns artesãos pintam as peças ainda quentes, vermelhas, mas Senhorinha acha que a peça pintada deixa o barreado amargoso. A prática e os usos aperfeiçoam as formas das peças.Agora começa a arte estética depois do domínio do fazer bem feito.




Texto Escultor Luis Alberto Lopes

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