quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Cidades em Foco.

O mito das cidades.

Olhar o mundo pela TV e ouvi-lo pelas rádios, cria um fenômeno semelhante ao que observamos quando olhamos por um tubo. Nossa percepção fica limitada ao pequenino espaço-imagem concentrado no final do tubo. Tudo o mais desaparece.
Quando nos libertamos desta visão dirigida pela mídia encontramos um mundo riquíssimo, enorme, apesar dos esforços que a tecnologia, bem representada pela telefonia, pelos satélites e os aviões fazem para reduzi-lo e as suas distancias. O mundo é imenso.
Foi quando, pensando no mito que se quer criar da Cidade de Curitiba aos seus próprios habitantes, que me inspirei a investigar velhas cidades míticas como : Nazareth, Belém, Jerusalém, Vaticano, Meca e outras, e o que tinham de especial.
Não se pode julgar sem critérios. E foi partindo da simplória hipótese de que se pode reconhecer o tamanho do animal pelo diâmetro de sua toca, que julguei possível de se estabelecer uma medida de um povo pelas suas habitações, sua indústria e sua arte.
Porém não se pode fazer este julgamento deslocado no tempo, e a cada época devemos desenvolver uma ciência comparada de cidades julgando-as às suas contemporâneas, sem excluir do rol aquelas que a despeito de serem milenares ainda sobrevivem com características muito próprias.
Mas o mundo é imenso, seus povos, fora da ótica da mídia, são como pérolas em águas profundas, riquíssimo tesouro de costumes que nos deleitam a imaginação e nos ocupará a mente, ainda, por muito tempo.
Enquanto eu pinço hipotéticos critérios tais como extensão dos serviços públicos por habitante, área construída versus número de habitantes, ou saneamento por habitante, e ainda, o quanto custa ao cidadão o exercício de seu trabalho considerando-se transporte, alimentação, etc... Fico imaginando se todas as pessoas têm consciência de que o mundo e seus hábitos urbanos não ficaram desvendado com a viagem de Marco Polo, ou com as narrações do sueco Sven Hedim descendo o rio Tamir na Ásia.
Lia a história dos jesuítas portugueses que partindo da Índia, passando pelo Afeganistão encontraram o caminho de Marco Polo e o seguindo chegaram a pé na China tendo o padre Góes explorado a Tartárea chinesa e o padre Antônio de Andrade explorado o Tibet de onde tinha conhecimento que encontraria vestígios do cristianismo inicial, e de cujas viagens narra , quando voltou em 1625, a fundação de uma igreja, os costumes, a religião e os segredos desta misteriosa região do globo na sua obra:
“ Novo descobrimento do Grão Catay ou das ruínas do Tibet”.
No universo das cidades místicas, cuja amostragem julguei ser menor, o problema dos critérios para compará-las
Já é enorme, quanto mais difícil será a criteriologia para as cidades comuns, cujo universo é infinitamente superior.
Afora isto, deparei-me com a cidade templo de Lhaza, existente na planície do Tibete, construída no cume de um morro rombudo e cercada por todos os lados por altíssimas montanhas. O Tibete por si só, é isolado do mundo, primeiro pelas cordilheiras do Himalaia, depois pelos rios Indo e Brahamaputro, em seguida por mais uma cordilheira, os montes Karakorun que isolam o leste e o sul. Ao norte fica protegido pelos montes Kuen-Lun e ao oeste pelas desconhecidas e inabitadas cordilheiras Chinesas do Rio Young- Tse- Kiang. Pois bem ali, aos cinco mil metros de altitude, talvez visível do cume do Everest, esta a cidade proibida de Lhaza onde vive o Dalai-Lama, espécie de rei e pontifício conselheiro, carro chefe do budismo moderno e aríete de um “deus” escondido na escuridão com fisionomia amarela.
Dizem que ali vivem vinte mil “monges” budistas, sob os seus telhados de ouro, imerso em riquezas de arte sem conta e isolado de toda a influencia da mídia ocidental... mas todavia, há quem defenda, que aqueles orientais influenciam no tom da mídia ocidental.
Lá, no longínquo Tibete cada família cede pelo menos um filho para as ordens do Dalai. Viverão então não só isolados do mundo, mas também do seu povo, como o fazem os Catuchos e os Trapistas na Igreja Católica.
Talvez por desconhecer ou por relativa ignorância, o nosso bom povo ainda não caluniou as suas riquezas, ou as suas tradições, como fazem com a Igreja Católica. Vejam que nem sempre o senso comum tem critérios de julgamento.
Enquanto outra cidades místicas, hoje em ruínas, como Angkor Wate ( escreve-se assim?), dão testemunho arqueológico de culturas do passado, e Aristóteles da antiguidade clássica grega defendia que qualquer cidade que passasse dos 10.000 habitantes era uma anomalia, modernamente, por outros motivos, o Chefe de Defesa dos EUA defende a tese de que grandes cidades são um cancro e um alvo fácil para as bombas atômicas inimigas. Poucos anos atrás se calculava, no caso de uma guerra com a Rússia, de que, na troca de bombas, os EUA perderiam 40% mais população do que a Rússia, isto dado porque, a segunda potência, tem sua população mais pulverizada.
Há mesmo quem defenda que num futuro próximo, analisadas as progressões geométricas do avanço da AIDS, para a necessária salvação da humanidade, vítima da grande epidemia moderna, as cidades devem ser abandonadas, evitando-se as suas promiscuidades oriundas da densidade populacional, voltando os sobreviventes com saúde da população para os campos, e para a produção de alimentos.
Afora isto economistas de gabinete e donos do macro capitalismo internacional decidem estratégias de controle da natalidade das nossas e das estranhas populações, que habitam isoladamente desconhecidas regiões do globo ou tiranamente pensam na necessidade de seus extermínios, como donos de pombos, patos ou galinhas decidem a conveniência de que vivam ou não, como se fossem eles a tê-las criado.
Na verdade como existem riquezas além do nosso pequeno nariz, fora das telinhas, para entreter espíritos otimistas e pessimistas, porém, por enquanto, para não passar por herege, e nadar contra a corrente, aceito contra a minha razão, que Curitiba é a “melhor cidade do mundo”, um caro mito local, uma “mística” ilusão vendida pela corte aos cortesãos e mendicantes. Uma bela plataforma política.

Wallace Requião de Mello e Silva.

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