Etnias do Paraná.
Um aparelho de tomografia faz fotos em fatias, como quem corta um salame. Isso pode ser feito também com a história, e com o estudo das etnias. O que não podemos fazer é nos omitir diante de um corpo inteiro, dele tirando apenas uma fatia, e dela, por preguiça ou astucia, dar um diagnostico como se tivéssemos tomado a tomografia do corpo inteiro.
Fazemos isso com freqüência nas questões da formação étnica de nosso povo. Índios são índios. Negros são negros, portugueses são portugueses, e espanhóis são espanhóis, caso fechado, verdade absoluta. Falso diagnóstico. Portugueses são formados por diversas etnias, assim como, também os espanhóis, negros e índios. Eu quero complicar? Não eu quero desmistificar. Eu quero abrir o debate. Eu quero ouvir gente inteligente como a Dra Claudia Inês Parellada, do Museu Paranaense. A formação étnica do povo do Paraná é das mais complexas, e por ser complexa escapa pelas simplificações (uma rodela de salame) e esbarra ou serve a antigos e rançosos preconceitos raciais.
Agora preste atenção: nos ficamos algumas semanas em casos extremos sem comer; ficamos alguns dias sem beber; ficamos alguns minutos sem respirar. Ora, se é assim, respirar nos é muito mais necessário que beber ou comer, no entanto, via de regra, ninguém esta preocupado com o ar que respira, ou o que faz com o ar. Ele ainda é o “Bem Fora do Comercio” por excelência. Com o resgate de carbono, ele esta começando a sua estréia no mundo do comercio, entendeu? Você pagará pelo ar que respira.
Que quero dizer com isso se o nosso tema é etnias. Ora, nós valorizamos as etnias menos importantes para a formação de nosso povo, e negligenciamos as mais importantes e necessárias para a nossa formação. Portugueses por exemplo: respiramos o português, pensamos e falamos em português, e não nos honramos de ter dois pés e duas pernas em Portugal. Índios, ora senhores, olhem a cara, a fisionomia de nosso povo, nós temos dele se não muito, pelo menos a metade do nosso jeito de ser, ou boa parte de nossa genética. Erra e grosseiramente quem diz, ou quer dizer que os índios foram dizimados, eles foram miscigenados, essa a verdade. Leiam o livro “Franceses e Tupiniquins no Brasil”. Negros, esses não aparecem em nenhum folder turístico sobre o Paraná, como se não existissem. (quiçá, apareçam agora que o Obama é presidente da matriz) Tire uma foto da cidade, da sua cidade ou da minha, e veja quantas caras de índio e peles negras ou delas descendentes existem: ora isso não importa; ou isso não é uma verdade insofismável? Não esqueça, Astecas , Incas e Maias também são índios, portanto não diga, eles parecem bolivianos, peruanos, uruguaios ou argentinos. Não diga que o presidente da Venezuela tem cara de índio, pois ele tem cara de brasileiro, sim dos brasileiros, dos homens vermelhos, que para alguns é a verdadeira origem de Brasis, da cor da Brasa, da cor das diversas tintas com a qual pintavam o corpo, os brasi-leiros das florestas equatoriais. Abra o seu caderno de receitas, ponha um disco em sua (eu sou muito antigo) electróla ou CD e ouça o negro o índio e o português. Coma e saboreie o negro, o índio e o português, não como antropófago, mas como se fossem cozinheiros de receitas típicas, mesclas de temperos e pratos de outras origens o que muito nos honra. Quando comemos..., e é uma injustiça, comemos bem.
Vou mostrar as fotos de um catálogo sobre as etnias do Paraná, você verá claramente do que eu estou falando, verá a artificialidade de tudo, com roupas que você não vê nas ruas, danças que você não dança, sons que você não escuta , cores e humores, gestos e posturas estudadas para contar uma história (que vende), história diríamos tão importante como um prato de comida, às vezes importante (importadas por isso são in-port-ents) como um copo de água; mas aquelas etnias e misturas que nos são importantes como o ar que respiramos, nós as fazemos quase invisíveis. As omitimos. É isso: Santo de Casa, que ocupou o território e semeou o povo, não faz milagre. Faz milagre o estrangeiro que conta uma história do Brasil, para “Inglês Ver”, não é assim que se diz, quando fazemos cena? Se ao atingirmos a “independência política do Paraná tínhamos sessenta mil almas “brancas” e alguma porcentagem era de negros, quantos desses brancos eram mamelucos, cafuzos, mulatos e índios (quantos índios eram contados como escravos?) O que tínhamos no Paraná de então era a Bugrada . Nossos quadros mostram homens altivos, cheios de medalhas, que não tomavam banho, urinavam no urinol, fediam à montaria, tinham os dentes cariados e doenças venéreas, quando não pisavam o chão com a planta dos pés, como hoje ainda se vê no interior. Contemple a arquibancada de um jogo de futebol, e veja o que somos, somos povo, não etnias, somos povo, não raças, somos povo, não pinturas ou fotos editadas e produzidas para atrair o vil metal. Somos o povo brasileiro, uma historia de amor inconfessa, uma história de liberdade na prisão, uma história de paixões, nas ocas, nas senzalas, nas casas Grandes, nas favelas, nas areias das praias e no mar. Uma história de florestas, de serras, de sertões, minas e boiadas, que teimamos em não contar por inteiro. Um Brasil para brasileiros, e não para “estrangeiros”. Um Brasil para acolher, e não para formar guetos. Um Brasil para ensinar o mundo, na roda de bamba, na roda da vida, no campo de futebol, nas cavalgadas, nos campos de bocha, no chimarrão e no churrasco, na manteiga de garrafa, no feijão de corda, no baião de dois, e na carne de sol, no sarapatel, e no Pirarucu, nas quadras da alegria, na Missa de domingo, nos frutos exóticos, nos terreiros de café, e na roda do carroção de boi gritando o lamento dos homens diante das dimensões continentais do solo, e das distâncias cósmicas de um céu estrelado.
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