segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

ANTES TARDE QUE NUNCA.
Camila Zanqueta
O presidente Luís Inácio Lula da Silva articula, no cenário internacional, uma tomada de liderança do Brasil frente ao G23, grupo formado por países em desenvolvimento que pretendem formar uma nova ordem de interação e negociação entre os países. Durante suas viagens internacionais, o líder brasileiro busca a implementação do bloco que se fortalecia, em negociações econômicas mundiais, frente aos Estados Unidos e Europa.

O diferencial do G23 reside no poder agrícola e nos recursos naturais de seus componentes, enquanto os demais grupos, de países desenvolvidos, destacam-se por seu poderio econômico. Segundo especialistas, o Brasil desponta como líder deste cenário, já que se evidencia pelo potencial agrícola e sua biodiversidade, além de uma nova postura do governo brasileiro, representado pelo seu presidente que adota um discurso com maior alcance mundial em relação ao governo anterior.

Desde sua posse, Lula já visitou cinco países da África, Peru, Argentina, Colômbia, Venezuela, Equador, México, Espanha, França, Inglaterra, Portugal, Alemanha, Suíça, Estados Unidos e Cuba. A Agência Mack conversou com o professor de Economia da Universidade Mackenzie, Sérgio Lex, que tratou destas questões. Confira a entrevista.

O que é o G 23?

O Brasil lidera, junto com a Índia, um bloco formado por 23 países em desenvolvimento, chamado de G23, para defender seus interesses agrícolas e combater os subsídios ao setor, concedidos pelos países desenvolvidos. Apesar de ser um bloco bastante heterogêneo do qual fazem parte vários países latino-americanos, inclusive a Argentina e o México, o G23 tem procurado participar de modo construtivo das negociações. Na última reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), realizada em Cancún (México), a maioria dos países em desenvolvimento, sob a liderança do G23, se recusou a aceitar a negociação dos temas definidos na reunião anterior, em Cingapura, dentre eles, a facilitação do comércio internacional e a transparência nas compras governamentais. Isso provocou um fracasso da reunião, antes mesmo que se iniciasse a discussão dos temas mais polêmicos ligados aos subsídios agrícolas.

Qual a posição do Brasil neste grupo?

Dentro do G23, o Brasil junto com a Argentina, tem uma posição mais radical em relação a outras lideranças, como a Índia, o México, a Costa Rica e o Peru. Mesmo dentre os países latino-americanos, o Brasil ainda enfrenta certa dificuldade de fortalecer sua posição de liderança, talvez exatamente por esta postura mais radical. Ele não consegue, por exemplo, evitar que os países da América Latina desenvolvam acordos bilaterais entre eles, como o recente acordo entre Argentina e Chile, fora do Mercosul, além de outros acordos diretos entre Colômbia, Republica Dominicana e Chile, por exemplo, com os Estados Unidos. O México, com uma postura mais moderada, tenta reunir os países em desenvolvimento para recolocar “o trem que descarrilhou” nos trilhos, em Cancún.

Qual a importância para o Brasil da tomada de liderança do G23?

O Brasil deve assumir uma posição de liderança efetiva dentro do G23 e do comércio internacional, compatível com a importância de sua economia no cenário internacional. Afinal, o País tem um Produto Interno Bruto bastante volumoso, possui uma grande população com enorme poder de compra e há recursos naturais invejáveis, mas ele ainda não conseguiu consistência em sua postura internacional. Nas últimas décadas, o Brasil melhorou muito sua imagem no cenário internacional. Hoje, o País tem credibilidade e respeito junto ao mercado financeiro. Tanto é que o chamado “risco Brasil” atingiu níveis bastante baixos nos últimos meses, estabilizando em torno dos 700 pontos e com perspectivas de chegar em níveis próximos de 500 pontos no início de 2004.

Como você avalia o comportamento do presidente Lula neste cenário?

A postura do presidente Lula, no cenário internacional tem, de certa forma, contribuído para melhorar essa posição de liderança do Brasil, apesar de, muitas vezes deixar transparecer, a meu ver, certa ingenuidade e, até mesmo, certa imaturidade nas suas declarações. Apesar de tudo, ele tem demonstrado coerência nos princípios que defende e, principalmente, tem deixado muito claro que vai dar continuidade ao bom trabalho de reconstrução da reputação internacional do país, iniciado com muito êxito pelo governo anterior. O Presidente, apesar de ser criticado por viajar com muita freqüência ao exterior, tem levado uma imagem positiva do Brasil nos eventos internacionais, o que só reforça sua pretensa postura de líder dentro dos blocos econômicos dos quais participa, como o próprio G23.

Você acha possível que estas articulações possam dar início a uma nova ordem mundial, em que estes países do G23 possam fazer frente aos países mais ricos?

Considero muito prematuro imaginar que o G23, o Mercosul ou mesmo a ALCA possam, isoladamente, dar início a uma nova ordem mundial, muito menos fazendo frente aos países mais ricos. Todos esses blocos regionais ou econômicos fazem parte de uma tendência de mudança mundial, chamada de globalização, que se generalizou após a queda dos regimes socialistas. São tendências dos países se unirem para defender seus interesses comuns e fortalecer suas posições competitivas. O G23 se formou exatamente para defender interesses comuns relacionados com temas agrícolas, contrapondo-se a posições assumidas por outros blocos, como a União Européia e os Estados Unidos, que adotam medidas para proteger sua agricultura.

Você vê nos países do G23, algum elemento comum a eles que caracterize uma possibilidade de poder de mudança?

Apesar de existirem elementos comuns entre os países que compõem o G23, as diversidades entre eles são enormes. São realidades muito diferentes que se apresentam internamente nos países membros. Nigéria e Paquistão de um lado. México, Brasil, Índia e África do Sul do outro. Eles têm diversidades culturais gigantescas, mas todos têm em comum a necessidade de proteger seus interesses comerciais. Não se pode esquecer que o G23 combate, por exemplo, o subsídio que o governo americano dá à soja, enquanto que o Brasil subsidia o açúcar e a energia elétrica. O sucesso deste bloco vai depender da habilidade com que as negociações forem conduzidas pelos seus líderes, e não da força do poder econômico dos países envolvidos. O G23 não deve assumir uma postura estratégica de confrontação com os demais blocos. Ele deve assumir uma postura de disposição para negociação, sem perder de vista o foco de defesa de seus interesses econômicos e sociais.



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