Essa carta escrita e enviada há muitos anos, está portanto desatualisada, embora sirva para esses novos momentos de decisão.
Irmão Roberto.
Não tenho a menor dúvida que você superou politicamente todas as expectativas, fossem elas as de nosso pai, nossas ou as suas próprias. Ser prefeito, no meu entender, era o objetivo maior que já nos dava lícitos motivos de orgulho. Papai exultaria com o governo e o senado, acho que ele jamais esperou tanto. Por isto julgo, que tudo, até mesmo um inesperado fracasso futuro, será um lucro.
Tem você 57 anos. (hoje 68) Usando seu próprio argumento, você já teria feito valer o seu mandato de senador. Todavia creio que viverás ainda muitas aventuras no exercício do cargo.
Qualquer escolha que faça você, estamos ai. Senado até 2003, governo, presidência , quem sabe? Você terá então 63 anos.
No dizer da princesa Isabel, você já terá direito aos benefícios da lei dos sexagenários com direito a urinar no pelourinho e escapar das chibatadas. Estaria então liberto da escravidão da política. Prestigio político não é para sempre. Nada de aspirações de caudilho.
Por isto não acho que você deva temer o seu futuro político, ou a perda da oportunidade.
Diga-me o que aconteceria se você se elege governador? Qual o próximo passo depois de exercido o mandato? E no caso da presidência? Finalmente, no caso de continuar no senado? Em nenhuma hipótese a coisa é verdadeiramente desesperante, nem mesmo com as derrotas.
Só pesa a vaidade pessoal. A missão estará cumprida.
Caso diferente é o interesse do PMDB regional. Aí, cabe alguma preocupação.
É claro que eu gostaria de ser um dos Irmãos do Presidente. Governo, já passou. ( depois disso Requião foi leito mais duas vezes para o governo).
Todavia sinto medo de participar das pressões. É fácil empurrar alguém para o ringue. É fácil ficar de fora, passando a toalha. É fácil ser derrotado como torcedor. Duro é ser o objeto das pancadas.
Governo federal ou estadual, além das dificuldades da campanha interna e externa, vencidas estas, haverão "as bombas relógio" que explodirão no campo da economia. Você sabe que o próximo presidente ou governadores farão o papel de laranjas da entrega econômica do país. Isto já não é um rojão, é um canhão. ( os fatos confirmaram essa verdade).
Se você me permite, eu covardemente talvez, gostaria de vê-lo fora disto. Mas se você entende que tudo isto faz parte de uma vocação irresistível, que eu não seja reprovado, como foi São Pedro por Jesus Cristo que disse: Fora Satanás, afasta-te de mim. Pedro não queria que Jesus sofresse. Eu também acho desnecessário expor-se tanto num mundo tão cínico. Penso que você sabe avaliar todos os riscos.
Temo pela sua saúde. Pela formação de seus filhos ( hoje os dois filhos de Requião são advogados).
Morrer lutando, ou morrer na cama, cá entre nós, dá medo. Mas morrer do medo é burrice... não é verdade. Viver convicto, diz São Paulo, afasta o homem do pecado, pois que, ainda que apegado ao erro, como foi o caso dele próprio, o fazia por convicção o que lhe dava retidão de propósito. Todavia, a convicção não nos desobriga de procurar a verdade em todas as coisas e a retidão em todas as decisões. Qualquer que seja a sua em nada diminuirá a missão já cumprida. Não foi pequena.
Um grande abraço do Wallace.
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