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quinta-feira, 13 de maio de 2010

Um Conto: " A Ilha da Esperança"

A Ilha da esperança.

Existem no mundo físico crateras e trevas. No mundo espiritual também. Na verdade o mundo físico é imagem e semelhança do mundo espiritual.

Certa vez decidi fazer uma aventura espeleologica em uma das escuras cavernas da alma. Desci a profundidades nunca imaginadas e me perdi.
Perdi-me na escuridão do eco de minhas eternas perguntas. Se você me entende, o eco devolvia as perguntas, com as mesmas perguntas, em outros tons e intensidades.
Foi quando encontrei um feixe de fios. Um feixe nervoso como a medula, embora mais parecesse com uma longa barba. Agarrei-me a ele como Tezeu agarrou-se ao fio de Ariadne. Esperava, seguindo seu caminho, livrar-me das trevas. do labirinto de Minos. Mas ao fim dos longos fios de barba encontrei um velho. Um velho conhecido..., Eu.

A última testemunha viva, de uma antiga aventura, de uma história tão antiga quanto à vida humana. Pela primeira vez em toda a minha existência, pude encontrar-me comigo mesmo, com meu eu ancestral, e ouvir-me.
Então o velho Eu, me contou.
Quando Deus chorou os pecados dos homens, a terra se encheu de lágrimas, e tudo sucumbiu sobre as águas. Sobraram apenas dois cumes entre as montanhas mais altas. Cercadas pelas águas profundas ( lagrima salgadas) tornaram-se ilhas. Na primeira, salvaram-se cinqüenta homens, uma linda mulher, e cinqüenta bodes machos e uma fêmea. Na outra ilha, salvaram-se cinqüenta mulheres, e um homem jovem. Cinqüenta ovelhas sadias e um macho.
As ilhas estavam muito distante uma da outra.
Os ventos eram muito fortes, porque Deus olhava tudo de muito perto, e seu hálito, movia o firmamento.
Na primeira ilha, a liderança foi dada a um homem sábio, cujo nome era Prudência. Na segunda a liderança foi dada a uma mulher cujo nome era Experiência.

Quando Deus permitiu que o firmamento se acalmasse, a vida normal tomou seu caminho. Os homens jovens desejaram a bela mulher. O sábio pedia prudência, controle dos instintos e superação das paixões. Os homens, cegos de paixão, descuidaram da vida, e passaram a competir entre eles o amor da única mulher. Mataram a sabedoria que se chamava Prudência, porque ela exigia o freio das paixões. O mais forte então reinou sobre a fêmea. Não reinou muito tempo, pois os outros conspiraram e o mataram. Assim sucessivamente, da mesma forma que os bodes chifravam-se instintivament pelo domínio da fêmia. Tomados pela adrenalina das disputas, possuíam a mulher em bacanais, onde matavam os bodes e lhes bebiam o sangue. A mulher rapidamente adoeceu, com os maus tratos e violências, e os bodes, morreram, todos, e os que sobreviveram à distancia começaram a morre de fome. Deus então chorou os pecados desses homens e a ilha soçobrou.
Na outra ilha, as mulheres, não lutaram entre si.
Seduziam, com seus desejos ardentes, e seus instintos maternais, mas ouvindo a Experiência, construíram com a lã das ovelhas um leito nupcial. Conforme a Experiência lhes aconselhava, elas, uma a uma, conforme o relógio do amor, iam coabitando com o homem, que era tratado por elas, se não como um tesouro, como um filho, como o único macho.
Do mesmo modo, respeitado o cio, as ovelhas se portavam como portas de vida, ao macho que as cobria. Prenhas as ovelhas produziam leite, que com peixes, suportavam a vida da estranha comunidade. Cedo, bem cedo, começaram a nascer as crianças, homens e mulheres, que com o tempo constituiriam famílias, e gerariam vida em abundancia.
Deus viu que era bom. Deus sorriu, e relaxando exalou seu hálito quente, e as águas desceram, e a vida retomou as pradarias e campos do planeta. A vida vencera.
Deus então viu que a natureza bélica dos homens só tinha validade, na defesa contra inimigos externos, animais imensos, e na proteção da vida, pela proteção efetiva das mulheres, e desejou que assim fosse para sempre, mas deu liberdade aos homens que descobrissem o caminho, a porta, o portal natural da vida.

Fiquei meditando sobre aquilo por alguns instantes olhando fundo nos olhos do velho Eu, com tal concentração, que seus olhos me chamaram para dentro, como se fora um túnel, um poço profundo, como uma luz tênue no fundo da retina a tremular soluções, e Eu seguindo em frente, sai de mim, como por magia, para encontrar-me com a vida, através do portal natural, a mulher que amaria. Essa ilha chamada Esperança.

Vida amada. A mulher perseguida.
Wallace Requião de Mello e Silva
Para o G 23 de outubro.







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