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sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Etnias ou minorias?

Etnias ou minorias?

Recebi o novo calendário do Banestado. Coincidência ou não, soube ao mesmo tempo em que um dos movimentos negros moveu ação judicial contra o banco. Ato inútil. O texto do novo Calendário é bem esperto.
Explico melhor: O calendário do Banestado comemora as etnias, o Paraná de Todos Nós. A intenção é ótima, genuína, mas concorre para o mesmo erro que já havíamos denunciado em outro artigo, a grave manifestação de certos preconceitos que falsificam a realidade humana e étnica do nosso estado.
Festejam-se as etenias ucraina, polonesa, italiana, japonesa, suíça, árabe, judia, italiana, espanhola, portuguesa (até que em fim) e omite-se a negra e a india. É sempre assim.
Nós já havíamos escrito denunciando que todos os documentos oficiais de divulgação do estado, livros, folders, catálogos turísticos, mapas e cartões postais fazem sempre esta grave omissão.
Tempos atrás, fazendo uma pesquisa sobre a cidade de Curitiba, encontrei no inventário sobre a cidade à época de sua fundação, documento citado no livro do Professor Ernani Straube, que nos informava, que em 1693 em Curitiba possuía uma população de 5.819 pessoas sendo que 4.102 eram brancos e 762 eram negros. Isto significa que perto de trinta por cento da população era negra naquela data.
Encomendei uma quantificação ao IBGE e com a ajuda do Renato Japonês, que é casado com uma negra, obtive os seguintes dados: em Curitiba, numa pesquisa por amostragem domiciliar, realizada em 1995 o IBGE acusa uma população negra de 27.199 e uma parda, miscigenada - mulata, de 484.964 pessoas. Ou seja, temos em Curitiba e região metropolitana mais de quinhentas mil pessoas com raízes negras.
Para o estado do Paraná o IBGE afirma que possuíamos em 1995, 139 mil negros e um milhão novecentos e vinte e seis mil mulatos- pardos. Este número não é nada desprezível. Por isto mesmo é grave a omissão dos documentos oficiais sobre a formação étnica paranaense. Mais grave fica se consideramos que todas as etenias acima citadas, exceção de portugueses e espanhóis, chegaram ao Paraná depois de 1850.
Índios, portugueses, espanhóis e negros são os verdadeiros formadores de nossa nação. Foram eles que enfrentado todas as dificuldades dos 350 anos anteriores à chegada de imigrantes (tão festejados) construíram a nação brasileira.
Onde esta o parque do Portugues? O Parque do Índio?
O negro tem a Praça do Zumbi, mas não o reconhecimento da sua presença marcante e eloqüente, até mesmo pela cor, nos festejos étnicos. Lamento.
Quanto aos índios, o IBGE afirma que são 19.878 no Paraná. A indigenista Luli Miranda confirma que são 2.000 guaranis e 8.000 Kaigangs os índios com que ela trabalhou nestes últimos anos.
Não consegui informação precisa sobre a população indígena à época do descobrimento. Mas o que quero dizer aqui, sobre índios e negros, e que fique bem claro, é uma critica construtiva, um alerta de que índios e negros tiveram, sem sombra de dúvida, uma contribuição muito maior à nossa história e cultura do que os imigrantes (minorias) festejados pelos documentos oficiais.
Ora se os imigrantes chegam, coincidentemente, no século das revoluções culturais, não se pode atribuir a eles o progresso material de nosso estado, posto que, também na Europa, os "progressos" chegavam depois de 1850. Portugueses, negros, índios e mestiços oriundos dentre estas três raças, foram sem a menor dúvida os responsáveis pela verdadeira epopéia histórica paranaense e brasileira.

Wallace Requião de Mello e Silva.
Psicólogo

Escrito há anos.

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