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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Igreja e Educação.

A Igreja e a Educação.

Wallace Requião de Mello e Silva.

Ninguém, em sã consciência, poderá falar em educação no Brasil sem ouvir a Igreja Católica. Inclui-se nesse ninguém a Secretaria de Educação do Estado do Paraná.
Quando Humberto Grande prefaciou a obra de Roberto Alvim Correa que discorria sobre a história da educação no Brasil, fez um pálido elogio, um pálido reconhecimento aos relevantes serviços prestado à educação dos povos pela Igreja e suas ordens religiosas, onde, tiveram sempre, um papel de destaque. Sobretudo na Europa, base da Civilização Ocidental, assim como, também na educação dos povos da America. Naquele prefacio, Humberto nos lembra, que os jesuítas em maior número, e outras ordens católicas em menor número, foram, durante os 200 anos iniciais da America, os verdadeiros educadores das populações. Acertadamente fez referencia ao grande prejuízo sofrido pela educação brasileira com a expulsão dos jesuítas em 1759. Todavia ele nos deixa com a impressão de que com a expulsão dos jesuítas extinguia-se a ação educacional da Igreja no Brasil e no contexto educacional da América, o que não é verdade. Se houve com e expulsão dos jesuítas prejuízo da educação anti-reforma, e da educação formal como um todo, coube às outras ordens continuar com a sua ação educacional e missionária, sempre educadoras e civilizadoras. ( Ver a “Igreja no Brasil” do Pe. Arlindo Rubert, 1981; e ainda: “A Igreja e a Republica” do Pe. Júlio Maria, editora Universidade de Brasília 1981).
Tenho observado que essa falsa impressão tem sido reinteradamente divulgada pelos historiadores, principalmente pelos que, por ideologia, aderem aos ataques gratuitos à Igreja, tentando responsabiliza-la pelo suposto obscurecimento vivido pela humanidade durante a Idade Média. No entanto nem a Igreja tem culpa (pois foi ela que preservou os documentos antigos), nem houve o obscurecimento da Cultura Universal na Idade Media, como hoje, historiadores de renome, começam a legitimar ao aglutinar em torno da “nova tese”.
O fenômeno educacional da Igreja não se restringe ao período das expansões coloniais na America ou é limitado por um espaço geográfico qualquer. A Igreja desde sua instituição pelo próprio Cristo atingiu progressivamente todos os quadrantes do globo terrestre de tal modo, e com tal perseverança, que a Igreja jamais poderá ser acusada de omissão na educação da humanidade.
Ide e ensinai nos disse Cristo.
Quando Jesus Cristo ordenou aos apóstolos ensinar aos povos do mundo, caracterizou como essencial a missão pedagógica da Igreja. A Igreja existe em primeiro lugar para ensinar, educar e transmitir com exatidão. Sendo assim, ela enfrentou desde o inicio, em todos os tempos, em todos os quadrantes, as maiores dificuldades metodológicas e pedagógicas, sistematizando técnicas, aprendendo línguas e costumes, no objetivo de obter sucesso de seu fim missionário diante de línguas e costumes de praticamente todos os povos existentes na terra. Dois mil anos de pratica não podem ser desprezados. Portanto, a Igreja diante da necessidade de comunicar a Boa Nova (a boa noticia, o Evangelho) teve sempre o maior interesse de aprender para poder ensinar e realizar o seu fim missionário.
Mesmo autores historiadores tradicionalmente inimigos da Igreja como Laurent ou Michelet foram obrigados a admitir que os hospitais, os orfanatos, e as escolas de educação formal, incluindo as Universidades como as conheceram hoje, são uma incontestável criação da Igreja e de suas ordens religiosas.
Lembrando que a Biblia quer dizer etmológicamente: “um conjunto de livros”, pode-se também dizer que a Igreja teve como objetivo, desde seus primórdios a missão de “Guardar os Livros” e a tradição (Oral), uma tendência que se expressará pela história da humanidade adentro.
Werner Keller em: “Y La Biblia tenía Razón” nos mostra que os manuscritos autógrafos mais antigos em poder da Igreja datam dos anos cem (100) DC, enquanto os mais antigos em poder dos judeus datam dos anos 900 DC. Os originais em poder da igreja são oitocentos anos mais antigos dos que os dos judeus. Em hebreu existem os fragmentos de Nash e o rolo de Isaias do Mar Morto do ano 100 AC, e são esses os mais antigos documentos originais conhecidos em hebreu, depois ocorre um hiato em língua hebraica ate o ano 916 DC. Já em Grego, mais antigos que os em hebreu, os documentos originais, tem origem entre o ano duzentos e trezentos AC, como a Versão Alexandrina dos Setenta; os fragmentos de Ryland e os fragmentos de Fuad, continuando com farta documentação atem os anos 450 DC. Já os documentos latinos (escritos em Latim) começam pelo ano 100 DC e acumulam-se ate os nossos dias. Esse o Patrimônio da Igreja.
Guardar e ensinar resultaria em bibliotecas portentosas, entre elas, a que primeiro se sobressai, foi à fundada pelo Bispo Alexandre em Jerusalém no terceiro século de nossa era. Segue-se, em importância, a de São Damaso em Roma. Ficaram célebres também na historia do conhecimento e da cultura universal as bibliotecas organizadas nas Catedrais de Chartres e Reins e aquelas que nasceram em conventos como a de São Galo, Monte Cassino; Monthe Athos e a de Santa Catarina, essa última, que isolada no deserto da península do Sião, preservou um monumental tesouro da cultura universal. Hoje, negue quem puder, a Biblioteca do Vaticano é uma das mais importantes do mundo contemporâneo, seja pelo numero de impressos e manuscritos lá encontrados, seja pelo valor histórico e cientifico desses documentos.
Neste mesmo sentido, quando os bárbaros , pagão, invadiram o Império Romano, como todos sabem; e posteriormente os Hunos vieram dizimar o território europeu, concordam unanimemente todos os historiadores que já tive a oportunidade de pesquisar, que a Igreja se viu obrigada a esconder e proteger, como nunca, preciosos volumes. Alguns historiadores afirmam que dessa necessidade, e dessa proteção, nasceram algumas outras bibliotecas valiosas, católicas (universais) e secretas, constituídas inclusive por documentos religiosos e filosóficos ou científicos, cristãos e pre- cristãos, de origem hebraica, grega, egípcia, árabe, persa, hindu, chinesa e romana.
Não fosse o zelo da Igreja e de suas ordens religiosas mais antigas dificilmente se conheceria nos dias de hoje, por exemplo, as obras de Aristóteles e através dele as de Platão.
Juliano, historiador marxista, reconheceu que se não fosse a Igreja, mais de 80% do que hoje conhecemos sobre o mundo antigo teria se perdido. O mundo seria diferente com essa provável perda do conhecimento passado. Sendo assim, tampouco conheceríamos o que hoje conhecemos. Se não fossem os amanauenses, os monges copistas, que com arte e paciência copiaram, comentaram e divulgaram, antes da imprensa existir, não conheceríamos os livros importantes que certamente determinaram e serviram de base a origem da civilização contemporânea.
Ensina-nos a “Historia da Educação” que são quase inseparáveis as noções de “Educação Formal” com a noção de escrita e de leitura. Com a escrita começa o período “Histórico da Humanidade”. Livros, memória escrita, bibliotecas e escolas sistematizadas são como um elo que ligam a ciência e a cultura universal insofismavelmente à Igreja. Neste ultimo sentido a Historia ira testemunhar que a primeira atitude racional e política prevendo a sistematização de uma ordem, ou uma vontade governamental dirigida para a alfabetização da população, foram à incomum atitude de Carlos Magno que sob a supervisão de Alduino, monge e sábio católico, estrutura pela primeira vez na historia da humanidade, a “Escola Formal” durante o oitavo século de nossa era. Quem quiser pesquisar encontrará também verdadeiras escolas modernas nos mosteiros do décimo século de nossa era. Depois, em testemunho do que digo, vieram as escolas Catedralícias, anexas às Catedrais, e voltadas para o ensino formal complexo (humanidades).
Jamais se poderá negar, e não se pode deixar de lembrar, que as Universidades, no exato sentido do termo, são também insofismavelmente filhas da Igreja. O Papa Inocêncio III fundou a Universidade de Paris. São também obras da Igreja, apesar de muitos pensarem ser obras de protestantes as Universidades de Oxford na Inglaterra em 1168; e a de Cambridge (ambas fundadas antes da reforma protestante). Montpallier; Orleans; Toulouse; Avignhon; Pontiers; todas na França são filhas da Igreja. Na Espanha; a Universidade de Validolid em 1346 obra do Papa Clemente VIU e posteriormente Salamanca. Em Portugal; o Estúdio de Lisboa em 1290; o Estúdio de Braga em 1347. Na Alemanha Heidelberg em 1385 e Colônia obra dos dominicanos em 1388; e Erfurt fundada pelos franciscanos e reconhecida em 1379. Daqueles anos para cá eu não ousaria enumerar o imenso número de universidade católicas criadas no planeta e também não ousaria enumerar as outras instituições de ensino médio e fundamental promovidas pela Igreja nos cinco continentes. Faltaria espaço.
Na America não foi diferente, em 1538 o Papa Paulo III mandou erigir a Universidade de Santo Domingo, a primeira de toda a América. Pio V em 1571 funda a Universidade de Lima, a Segunda em toda a América. Em 1580 o Papa Gregório XIII autoriza a Universidade de Santa Fé de Bogotá, sendo essa a terceira na America. A primeira Universidade do Brasil, essa republicana e secular, foi a Universidade do Paraná, fundada em 1912.
Concluindo, quem poderá negar o papel da Igreja na educação da humanidade. Julgo, porém, necessário lembrar outro fato bem esquecido e negligenciado pelos historiadores da Educação. As missas, enquanto espaço de predicação coletiva, veículo de homilias inteligentes e construtivas, espaço de leituras, transmitindo coletivamente valores morais que balizam o convívio em sociedade, fossem elas praticadas nas catacumbas de Roma, nas Universidades, ou nas paróquias, foram, no inicio da Igreja, e serão sempre, ad aeternum, escolas de civismo e moral, que com sua ação ininterrupta, desde os primórdios da Igreja, construiu a solida consciência cívica dos verdadeiros cristãos, em sociedade.
Ainda que se possa dizer que tais atos religiosos não ensinam, a ler e escrever diretamente, ninguém poderá negar sua ação civilizadora e o amor aos livros santos, e aos livros em geral, que a todos inspira.
Concluo, portanto, que não haverá verdadeiro debate na área educacional, no Brasil e no Paraná, se não houver o concurso e a convocação da Igreja. Pois a Igreja não ensina apenas doutrina religiosa, mas ensina valores morais, deduzidos dos Mandamentos de Deus na sua universalidade de aplicação, não apenas uma “Ética” temporal e sectária deduzida da filosofia dos costumes, e da “racionalidade” de uma dada e particular cultura. Deus tem sido à base de todo o sistema Deontológico com alguma estabilidade, mas é em Deus Filho, o Verbo Encarnado, que se humaniza, à vontade e inteligência de Deus, numa base objetiva. Essa é à base do mundo Cristão. Caso contrário, e digo isso por convicção religiosa, a Igreja, relegada ao segundo plano na educação do povo, além de representar uma traição ao Cristo Nosso Senhor, que não será perdoada (o pecado contra o Espirito de Deus não será perdoado), poder-se-ia dizer também que as conseqüências serão graves. E as conseqüências já estão ai. Perde-se o rumo e o controle social dos homens, pela força intrínseca do livre querer individual que se desvia.
Se não bastassem os argumentos que cito acima, ainda afirmo que o IBOPE aponta a Igreja como a instituição nacional que detêm o maior índice de credibilidade popular no Brasil. E isso é politicamente significativo. Negar-lhe, na educação brasileira, e paranaense, o espaço na responsabilidade de educar, é deseducar, ou contra educar, ao povo, desviando-o de seus valores morais e induzindo-o ao erro e a desorientação moral absoluta. É conduzi-los como ovelhas sem pastor aos valores transitórios e instáveis, gerando, pela conseqüência, uma sociedade instável nas suas relações sociais. E uma sociedade instável nos valores gera injustiça e a injustiça gera violência como conseqüência imediata. A sociedade ateia e “o cristianismo não religioso e secular” conduz e induz, resultando numa sociedade gerida pelo Direito todo fundado na base consuetudinária, revelando-se, aos olhos de quem quer ver, o retrato do Caos.

Wallace Requião de Mello e Silva
Pesquisa & texto.

O autor é irmão do Governador Roberto Requião, pesquisador, articulista, e Psicólogo profissional.

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