O meio ambiente cósmico e a presunção humana.
Costumo e gosto de deitar na relva e contemplar as estrelas. Inspiro profundamente e encho os meus pulmões (pneuma como diziam os gnósticos) com o ar fresco do meu entorno.
Inspiro com presunção de inspirar o Universo inteiro e percebo, todavia, que apesar do meu querer as estrelas permanecem lá, imóveis, em distancias infinitas, alheias ao meu querer tocar, alheias ao meu desejo de movê-las. Na verdade elas estão fora, muito longe do ar que respiro, do ar que me envolve e envolve o planeta, enfim, longe do meio ambiente íntimo do entorno imediato da minha vida individual. As estrelas desse modo me mostram de maneira insofismável que há um ambiente cósmico tendente ao infinito.
Então expiro, soltando o ar, e me livro, com esse ato singelo e natural, do desejo de possuí-las ou controlá-las. Esse exercício da vida tem me mostrado como é ousada e falsa a presunção humana. Presumir que somos capazes de preservar ou destruir o meio ambiente cósmico é uma ousadia sem igual. Uma impossibilidade física e racional.
Como eu te pergunto uma “poeirinha” cósmica, uma minúscula poeirinha cósmica contida num Universo imensurável, presume, querendo ou se achando capaz de destruir o “todo cósmico”. Se eu fosse panteísta diria que era o homem, a criatura, querendo destruir a Deus. Ilusão.
Mas como a presunção humana é fruto do orgulho, volta-se a mente em um estalo, também como fruto do orgulho, à consciência, e dessa vez volta-se o homem contra a pessoa humana, como se ela fosse à encarnação do mal ecológico, e ao propor a destruição da pessoa como mal do mundo, ou a consciência dela, negando-lhe a razão, a consciência intrínseca da pessoa, e destruí-la para proteger o ambiente, o “Cosmo” deixasse de impor-se como imenso, imensurável, inatingível, e,... Agora violentada à pessoa humana, pensamos nós poder com nosso querer minúsculo mover o Cosmo, atingir ou mover, modificar ou reordenar as estrelas e seus pequeninos mundos periféricos na imensidão cósmica. Ilusão do querer é poder. Ilusão do poder é querer. Presunção.
Deus impera livre, muito acima do mundo material. Muito além do tempo e do espaço Cósmico.
De onde vem essa ilusão? Vem da epistemologia essencial da alma humana, que grita, pela evidência dos fatos ao ser humano ainda meio surdo, que existe um meio ambiente externo, e também um meio ambiente interno no homem, um meio ambiente que tem internamente uma ecologia própria com suas regras, leis e limites. A ecologia interna no homem é a Moral.
Se forem os valores do homem que regulam os seus agir, a fonte desses valores, é a “MORULA”, o inicio do agir e perceber do homem consciente. É a pré ciência do pensar e julgar. Por isso se diz que no Homem existe uma lei inscrita em seu coração, no seu âmago, no mais profundo do seu ser. Embora no homem a Moral em toda a sua extensão é revelada pelo Espírito, no animal irracional a ecologia interna é o instinto.
Como você sabe a ecologia, enquanto vocábulo conceito foi criado ou formado por seu criador Ernest Haeckel (1834-1919) pela fusão dois radicais gregos Oikós (casa) e Logos (estudo). Ambas são palavras gregas, muito antigas, que representam casa, meio circundante do ser vivo ambiente ( oikós) somado a estudo, saber, consciência ( logos). A raiz étimica é a mesma em Oi-kós-mos, “o todo” onde habitamos e ao mesmo tempo pertencemos em relação física, embora não lhe pertencemos em relação espiritual. O ambiente, portanto não é apenas o ambiente no planeta, pois esse depende de contingências cósmicas, externas, cujas leis muito sutis, particulares e precisas permitem a vida.
Os hebreus chamam de CASA (por exemplo, Casa de David) o grupo étnico, a família, a herança a que pertencem, revelando uma ecologia social. O “Kósmos” grego tem o mesmo sentido filosófico, traduz em primeiro lugar um sentido de pertença a algo, em segundo lugar, o sentido de herança (o que se herda de necessário para a vida) e em terceiro lugar o sentido de domínio relativo, justificando assim alguma liberdade humana no existir cósmico. Porque relativo domínio? Por que o domínio humano (o espaço da liberdade humana) nos diz respeito e expressa o conhecimento e o convívio harmonioso do meio ambiente interno e externo dentro de limites morais.
A nossa ação no meio externo é pautada pelo valor interno, superando o instinto animal. É o valor interno que diz se devemos agir desse ou daquele modo. Mas a liberdade (o espaço do domínio humano) não é uma conquista, é uma concessão relativa, dada ao homem no Cosmo, ou seja, é uma concessão (que caracteriza o homem como homem) dentro dos limites de uma lei maior, e que tem origem numa inteligência livre, da qual somos imagem e semelhança. O homem não é o autor da vida, nem autor do planeta, nem mesmo da consciência humana. E é moral o homem, porque a lei natural (cósmica), base do funcionamento da vida, também tem como fonte, tanto quanto o Cosmo, sua origem em uma vontade livre, uma inteligência livre a Inteligência e a Vontade Divina. Diz respeito, portanto, essa liberdade, ao passeio que podemos fazer dentro de nós mesmos e diz respeito também aos limites desse passeio, de tal modo que caminhamos em nosso jardim interior, no nosso “Morus”, no nosso modo moral, na nossa pertença moral, na nossa herança, nos costumes e regras inscritas na nossa constituição física interna, alimentada pelo sopro espiritual que é, e gerou a consciência humana. Assim se compõe o que Piaget chamou a Epistemologia Genética, uma herança genética do pensar, do possuir previamente e em desenvolvimento constante uma consciência evolutiva em etapas bem definidas desabrochando o conhecimento de si e do Cosmo. Esse passeio interno se faz em contato permanente com o passeio externo, que é o viver, e conviver com o meio ambiente externo, onde estão os outros, incluindo como é obvio as pessoas, não somente as coisas. Esse encontro moral evolui, na justa medida em que se avança na viagem interna, para o reconhecimento de que nós os homens não podemos nem destruir, nem proteger ou preservar os meio cósmico enquanto obra de Deus, pois se no suicídio, por exemplo, tiramos a vida do corpo, não podemos acabar com a inteligência e vontade onipotente de Deus operando, assim, para melhor compreender, se a vida começou, inexplicavelmente, haverá de começar novamente, mas, pelo contrario, num ato de humildade, podemos nos relacionar com ele de maneira harmoniosa, ou amorosa (incluindo assim o relacionamento com o próximo) através do meio moral, e pela via da moralidade podemos em relativa liberdade, harmonizar as nossas relações com os outros humanos, que estão fora de nós , em nosso ambiente, mas como nós dentro do Cosmo, inserido que estamos, todos, no meio ambiente externo, e assim podemos fazer a integração, porque a natureza do meio externo, obedece às mesmas regras da natureza existentes no nosso no nosso meio ambiente interno (meio Moral). Por isso a Moral defere da Ética, a Moral tem origem na Revelação pré consciente do homem numa força inconsciente que se torna lua na revelação, a mórula do homem é homem, e por isso tem origem na revelação da Lei de Deus Revelada, enquanto a ética, pelo contrario, tem raízes na presunção da sabedoria humana enquanto fruto de desarmonia Cósmica o que gera todos os seus enganos formais.
Essa identidade de medidas é o que permite a comunicação essencial, entre nós e o próximo e entre nós e o meio ambiente (há semelhanças genéticas de medidas entre os homens) e há uma semelhança nos signos da comunicação, portanto concluo eu, que, podemos exercer as mensagens amorosas e ou odiosas, conforme nos relacionamos conosco no nosso meio ambiente moral.
Sem esse padrão de medidas genéticas ( episteme gens) não seria possível a comunicação entre os homens enquanto homens, nem tampouco seria possível a consciência do existir individual e coletivo da espécie humana e ou , ao menos do existir cósmico.Entre esses dois conhecimentos existe um ser moral e uma certeza. A certeza da existência do querer e da inteligência ( inteligência e vontade) do Verbo. Verbo preciso que se diga é a palavra que expressa a ação, a Ação e Vontade Inteligente de Deus. É preciso reconhecer.
Assim o Cosmo nos mostra, que além das estrelas, para La das estrelas, há houve e haverá, fora do tempo e da matéria, uma inteligência criadora que não teve começo e nem terá fim, uma vontade ordenadora e criadora do Cosmo Matemático, uma vontade criadora e mantenedora do meio externo e interno do homem, onde coabitamos como seres bio- espirituais, como seres pontifícios ( pontes serviçais entre a inteligência criadora e a inteligência humana aplicada à criação) entre a matéria (oikós) e o conhecimento ( logos). Assim, percebemos claramente: E o Verbo se fez Carne a habitou entre nós, não numa simbologia geral, mas no FILHO DO HOMEM.
Gosto de olhar as estrelas com as costas ou os pés apoiados no planeta, essa pequenina esfera chamada Terra (Telos) que é a minha prisão existencial, meu limite e minha vida. Uma vida pulmão elástica (pneumática, ou melhor, como diziam os antigos, uma vida soprada), inflado de ar (Ar, um dos quatro elementos do meio... Como diziam intuitivamente os antigos filósofos gregos; ou também as Sagradas Escrituras, igualmente bem antigas: E Deus soprou as narinas de Adão, e ele viveu “... como nos conta o Gênesis. Um ar que esta fora e dentro de mim num só e mesmo tempo. Uma realidade invisível .
Meu limite, minha liberdade e minha prisão cósmica.
Wallace Requião de Mello e Silva.
Para o G 23 de Outubro.
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