A Rádio PRB2.
Wallace Requião de Mello e Silva.
Três anos antes de Charles Lindbergh ter atravessado o Atlântico Norte num vôo épico, algumas nações disputavam a volta ao mundo em avião. Poucos conhecem essa história que se iniciou em 1924 envolvendo Portugal, França, Argentina, Itália, Grã-Bretanha e Estados Unidos. Tal corrida foi completada pelos pilotos americanos e é narrada por Leigh Wade, um dos sobreviventes da aventura, cuja maior queixa era a da ausência do equipamento do rádio que lhes permitiria a comunicação, entre aviões que voavam em formação mantendo apenas contato visual.
Muito menos pessoas ainda conhecem a história dos aviadores brasileiros, João Negrão e João de Barros que atravessaram o Atlântico Tropical com o hidroavião Jahú, de fabricação italiana, pouco antes de Lindbergh. O mundo subestimou o feito heróico dos ousados aviadores brasileiros. Talvez pelo fato de João de Barros ser um militar negro.
A história tem dessas coisas. Ela se curva ao poder da mídia, da política, do poder econômico e acaba deformando-se. Assim Santos Dumont, o pai da aviação, ficou em segundo plano em relação aos irmãos norte-americanos Wilbor e Orvile Wright.
Se foi assim na história da aviação, o mesmo aconteceu na historia do rádio.
Todos que sabem algo sobre rádios conhecem Marconi, na verdade Guglielmo Marconi, seu nome completo, tido como o inventor do telegrafo sem fio, o antecessor do rádio. Todavia, na França, a invenção é atribuída a Brianly; nos Estados Unidos, a Lodge; na Alemanha, a Staby. Enfim, quem inventou o rádio?
Curioso, como comprova a regra, é que o rádio, o rádio verdadeiro, capaz de transmitir sinais sonoros via aérea, foi inventado no Brasil.
Quem sabe, ou conhece essa bela história de nossa ciência?
Na paróquia de Sant’ Ana, na capital de São Paulo, o padre Roberto Lendel de Moura dividia seus interesses entre o oficio religioso e o eletromagnetismo. Em 1893/94 ele transmitiu sinais sonoros desde a Av. Paulista até sua paróquia, oito quilômetros distante, emitido e recebendo por um aparelho por ele inventado, o radio, dois anos antes de Marconi ter conseguido transmitir em Morse sinais por espaço de algumas centenas de metros. Marconi inventou o telegrafo sem fio, Lendel, o rádio. Todavia Lendel levou 14 anos para conseguir uma patente brasileira e outra norte-americana, conseguiu em 1904. Ora, Marconi, em 1904, já era o magnata da nova tecnologia. Em 1896 ele mudara para a Inglaterra, registrara seu invento naquele país e houvera estabelecido contratos milionários com os Correios dos EUA. Lendel, humildemente, rezava seu terço na sua paróquia, comunicando-se moralmente com Deus, enquanto Marconi contava o vil metal e desfrutava da fama. É a vida. E o Brasil, mais uma vez, deixava escapar mais essa grande oportunidade.
Vinte anos depois, em 1924, o rádio já era experimentado com sucesso no Brasil. No Paraná surgia a segunda estação experimental do país instalada na casa de Lívio Moreira, seu principal mentor, verdadeiro criador e verdadeiro cientista do rádio. Tal equipamento, importado, funcionou de 1924 a 1926 na clandestinidade, ou melhor, não havia suficiente arcabouço legal no país para regulamentar o setor, e a nossa rádio foi reconhecida pela autoridade publica somente em 1926. Essa é a PRB2, a segunda rádio do Brasil. A primeira a famosa B1.
Aqui, também a história deu suas “voltinhas”, e registra-se, como resultado dessas voltas, como fundadores oficiais da rádio, algumas pessoas que não estiveram presentes nos seus primeiros e heróicos momentos, mas que nem por isso deixam de ser os fundadores oficiais, ou documentais, e efetivos, da rádio pioneira do Paraná.
É a própria filha de Lívio Moreira, Germana Moreira, que vem socorrer, corrigir e informar aos pesquisadores de nossa história os nomes que participaram efetivamente da gestação épica da rádio paranaense. “Numa narrativa publicada pelo Boletim do Instituto Histórico Geográfico e Etnográfico Paranaense do ano de 1983 titulada: “História da Rádio Clube Paranaense”; ela diz: “ Seu espirito empreendedor levou-o a organizar em Curitiba, no dia 24 de junho de 1924, uma reunião da qual participaram alguns entusiastas do radio, objetivando a organização de uma associação civil cuja principal finalidade seria difusão informativa e cultural, por meio de ondas hertzianas. A esta reunião, realizada na residência do senhor Francisco Fido Fontana, compareceram, entre outros, os Srs.: Flávio Luz, João Alfredo Silva, Olavo Ribas, Oscar de Plácido e Silva, Emílio Jouve, Euclides Requião, Bertoldo Hauer, Gabriel Leão Veiga, Alberto Xavier de Miranda e, evidentemente, o organizador Lívio Gomes Moreira. Resultou deste encontro a fundação da Rádio Clube Paranaense, PRB2”. Diz a seguir: “Dois anos de experiências se passaram. “Somente em 1926 o poder público concedeu licença à Rádio Clube Paranaense para trabalhar em caráter definitivo”. Pouco antes em 1976, também no Boletim do Instituto Histórico , Geográfico e Etnográfico Paranaense, volume XXIX, a pena de Osvaldo Pilotto à página 45 dizia: “Lívio Moreira, Flávio Luz, Fido Fontana e Euclides Requião deram estimulo à criação da primeira estação de Radio do Paraná, a PRB2”
Lívio Moreira foi também o Primeiro DX do Paraná, cuja longa distância se estabeleceu em 18 de Janeiro de 1926 com um pioneiro rádio amador argentino (o DK1) de Bahia Blanca.
Assim nascia, na voz e no microfone de Lívio Gomes Moreira, a Rádio Difusão no Paraná.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
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