NÓS OS SEMI ANALFABETOS
Agora que já passei muito dos cinquenta e tenho dois trabalhos publicados pela editora Beija Flor, um dicionário de semelhanças e mais de uma centena de artigos publicados em jornais prestigiosos como O Estado do Paraná, Gazeta do Povo, Folha de Londrina, Jornal de Brasília ( ou Correio Braziliense, não me lembro), Atualidades, O Estado, Correio de Notícias , Revista Magnum e outros jornais do Paraná, e passei pelos três estágios da educação oficial, posso confessar e com vergonha que nunca consegui escrever certo. Sinto-me frustrado ao acabar de redigir uma lauda e vê-la cheia de erros, ou , o que é muito pior, não vê-los.
Não pode ser por falta de leitura ou exercício, pois sou capaz de ler sem dificuldade alguma o espanhol e com mais dificuldade mais três linguas. Estudei Filosofia na Federal, Psicologia na Católica, e fiz uma iniciação em Teologia com direito aos rudimentos do latim e grego. Leitura não me faltou.
Poderia atribuir culpa ao habito de ler velhos livros e documentos, daqueles em que elefante escrevia-se elephante, mas não justifica. Todavia levanto outras hipóteses, ou a escrita se forma na infância o que indica que estamos negligenciando na educação já há algumas décadas, ou tenho uma disgra fia qualquer, ou ainda participo daquele grupo que ostenta o pejorativo nome de semi-analfabetos, frutos de uma educação tardia, autodidata e imperfeita.
Escrever certo ainda é escrever corretamente ortográfica e sintaticamente. Não há desculpa ou justificativa que possamos usar. O erro ortográfico e sintático deforma a língua, confunde e prejudica a comunicação.
Escrever claro já tem outro sentido. Significa levar alguma luz sobre o assunto tratado e de maneira clara. O escrito claro haverá de ter algum brilho, alguma evidência, algo de luminoso. Ora, quem deseja escrever claro deve ser como uma vela, esclarecendo, e não ao contrario escrever velando, confundindo mentindo enganando e aumentando a escuridão. Jornalistas sofrem esta tentação.
Escrever bem vai muito além. Diz respeito à qualidade da luz. Neste sentido um bom dicionário dará varias definições de BEM. O sentido que aplico aqui, e que vejo aplicável a quem escreve é o sentido maior da virtude ao escrever. O bem é tudo o que é bom ou conforme a moral, tudo o que revela virtude e é escrito com afeição. Tudo o que constrói.
Na minha vida de leitor tenho visto textos impecáveis que não dizem absolutamente nada. Tenho visto textos corretos que são verdadeiramente tenebrosos, falta-lhes clareza. Tenho visto obras eruditas que estão a serviço do Mal. Acho que me faço entender.
Se você tem grau universitário como eu e é, como eu, um semi-analfabeto, ou possui alguma disgrafia, lute no sentido de escrever certo, todavia não se esqueça do mais importante que é o sentir aquele calor luminoso no peito, aquela paixão de levar alguma luz e algum bem a tudo aquilo que você vê, toca sente e comunica. Lute, haverá espaço para você.
Bom senso, alguma sabedoria e inteligência também se pedem a Deus... e ele a dá. Enfim toda a luz vem Dele.
Wallace Requião de Mello e Silva
Psicólogo.
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quarta-feira, 18 de março de 2009
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