Racismo se esconde na omissão.
Lindo o novo parque Alemão. Uma agradável homenagem feita aos alemães e à sua substancial contribuição à vida de Curitiba, aqui, perfeitamente expressa pela obra do executivo municipal. Lindo o parque ucraniano. Poético o polonês. Simpática a “Praça do Japão”.
No entanto, sempre marcou a minha consciência e escandalizou os meus sentidos a ausência omissa na questão dos negros e mestiços na formação étnica e cultural da Cidade de Curitiba.
Folhetos editados pelo poder público, livros sobre o Paraná e Curitiba, manuais fotográficos, comentários sobre a arquitetura, a música e os costumes, dão sempre a impressão que o negro foi uma figura ausente na formação de nossa cidade.
Alemães, Italianos, Poloneses e Ucranianos são, por assim dizer, o emblema falso que todas estas publicações usam para definir o povo curitibano. Mais recentemente se acrescentou, via status, o povo Japonês ao “cardápio”, que apesar de tardiamente ter emigrado ao Brasil, pois não faz cem anos que aqui estão e já ocupam destaque nas fotos emblemáticas que mostram as tradições e folclores do paranaense e curitibano. Sem desmerecê-los, vejo nisto um pouco de exagero. E negros, onde estavam os negros?
Hoje, fazendo uma pesquisa encomendada pelo deputado Maurício Requião vai encontrar no inventário sobre a cidade de Curitiba, transcrito na obra do professor Ernani Straube, que nos diz, que em 1693, Curitiba possuía uma população de 5.819 pessoas sendo que 4102 eram brancos, 955 mulatos e pardos frutos de miscigenação e 762 negros. Ora, isto significa que, nada mais nada menos que trinta por cento da população curitibana era negra ou mestiça ao momento de sua fundação. Como então podemos desconsiderar este fato? Como podemos omitir nos manuais, folders, livros e guias a presença dos negros na vida de nossa cidade?
Que tipo de sentimento desenvolve tamanha cegueira? Que tipo de ingratidão cívica é responsável pela omissão que faz vistas grossas ao esforço e a contribuição dos negros em nossas vidas? Que nos dirá o IBGE nos dias de hoje? Qual o percentual de negros na população de Curitiba,... e de mestiços?
Sei que no passado próximo o poder público inaugurou a Praça do Zumbi numa tentativa de resgatar um pouco desta cegueira crônica, infelizmente não acho que esta caricatura de rebeldia reivindicatória esboce com fidelidade a contribuição negra na vida cultural e no processo civilizatório brasileiro.
Sinceramente eu interpreto estas omissões como um racismo velado.
Wallace Requião de Mello e Silva.
sexta-feira, 27 de março de 2009
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